Os Pavões de Deus

5 de janeiro de 2016 - 23:17, por Claudefranklin Monteiro

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Discurso do Papa Francisco à Cúria Romana

No último dia 22 de dezembro de 2015, em mensagem de Natal dirigida aos cardeais, o Papa Francisco deu mais uma e contundente demonstração de que veio para marcar a História da Igreja Católica. Na ocasião, elencou 15 pecados cometidos, segundo ele, pela Cúria Romana nos últimos anos.

Somente essa semana, trechos, em vídeo, de seu pronunciamento circulou nas redes sociais, sobretudo em grupos de WhatsApp. A fala do Papa, de alguma forma, foi ao encontro das ideias de um ateísta famoso do final do século XIX. Trata de Nietzsche, em sua obra “O Anticristo”. Para o ele, alguns teólogos, filósofos (a exemplo de Kant) e sacerdotes se comportam como “pavões de Deus”.

Longe de serem de um anticristo, as ponderações do Papa Francisco apontam para doenças e problemas que o filósofo alemão já destacava, com sua acidez crítica, presentes no clero e no Cristianismo e que deram a ele e ainda dão munição para os desafetos da Igreja Católica, a ponto de ele ousar matar Deus.

Abaixo, apontamos um resumo comentado da lista que o Papa tornou pública, mais por necessidade de uma autorreflexão e apelo ao exame de consciência do clero, do que como mote de escândalo. Vale a pena observar cada questão posta e pensarmos, efetivamente, sobre que tipo de Igreja os católicos querem e oferecem para o combalido século XXI.

Nesse sentido, destaco, inicialmente, estas primeiras palavras: “A Cúria está chamada a melhorar-se, a melhorar-se sempre e a crescer em comunhão, santidade e sabedoria a fim de realizar plenamente a sua missão”.

Em seguida, o Sumo Pontífice discorre sobre o que ele chamou de doenças do clero ou doenças curiais. Ora, se se trata de um organismo vivo, que representa o corpo de Cristo, este se encontra em chagas, como na cruz, diante de algozes ávidos por vê-lo, finalmente, morto, sem direito à ressurreição.

1 – O pecado da presunção, de se sentir “imortal”, “imune” e “indispensável”. O Papa sugere que aqueles se comportarem assim, precisam visitar mais os cemitérios e lá testemunhar alguns dos que se agiram desse modo. Estes sofrem do complexo de serem eleitos, montados sobre sua vaidade e soberba, não enxergando os menores e apenas seu próprio umbigo.

2 – Refere-se a uma passagem do Evangelho, mais precisamente, envolvendo Marta, uma das amigas de Jesus. O Papa critica a “excessiva operosidade” de alguns clérigos, mais preocupados com a burocracia e com a administração das coisas e pouco afeitos a fazer o que é o mais importante: sentar-se aos pés de Jesus (Lc 10,38-42).

3 – A dureza do coração. Critica aqueles que se perdem ao longo do ministério sacerdotal com coisas vãs, que não sejam o Cristo.

4 – Agir funcionalmente, como um gerente, sem deixar-se guiar pelo Espírito Santo.

5 – A ausência de comunhão entre os membros do mesmo Corpo de Cristo. O inimigo a ser combatido não pode e não deve ser os irmãos de batina.

6 – O “alzheimer espiritual”. Uma advertência aos que se esqueceram de viver um encontro pessoal com Cristo. Que se mutilaram, com o tempo, escravos que se tornaram de “suas paixões, caprichos e manias”.

7 – Dois dos grandes males do tempo presente e não muito distante de nós: rivalidade e da vanglória. Isto tem gerado problemas sérios nas paróquias e tem sido causa de afastamento dos leigos da Igreja. Há casos que vão além da inveja e se traduzem em maldade.

8 – “A doença da esquizofrenia existencial”. O Papa critica aqueles que abandonam as pastorais, as missões, para viverem encerrados em afazeres burocráticos e ritualismos vazios.

9 – O Papa não poupa palavras contundentes à doença da fofoca. Estão longe de fazer o que se deve: admoestai-vos com caridade, olho no olho, com a sinceridade de irmãos, sem murmúrios diabólicos.

10 – A doença da divinização dos chefes, da idolatria dos superiores. Esta vai para aqueles que preferem as rodas do poder clerical ao povo, ávido por Jesus Cristo e por dignidade humana.

11 – Os corações duros e vaidosos tornaram alguns indiferentes às pessoas.

12 – Desde que o Papa Francisco assumiu, ficou claro que o cristão não combina com tristeza, rancor e cara feia. Ele critica com veemência os que sofrem de da “doença da cara fúnebre”.

13 – A doença do acumular. A ostentação do clero talvez seja uma das maiores munições que se possa dar aos que são contrários à Igreja Católica. Carros bonitos, residências suntuosas, bens e a famigerada “teologia do pano”.

14 – Esta, eu faço questão de abrir aspas em sua íntegra e deixar que as palavras falem por si mesmas: “A doença dos círculos fechados onde a pertença ao grupinho se torna mais forte do que a pertença ao Corpo”.

15 – Por fim, nos diz o Papa Francisco: “a doença do proveito mundano, dos exibicionismos, quando o apóstolo transforma o seu serviço em poder e o seu poder em mercadoria para obter dividendos humanos ou mais poder”. O chamado tráfico de influência, só que no campo religioso, e da pavonisse de ofício, na pior acepção da palavra.

Por fim, uma última colocação que traduz aquela conhecida expressão de Jesus Cristo: quem tem ouvido, ouça. Observem o que diz o Papa: “Irmãos, estas doenças e tais tentações são naturalmente um perigo para todo cristão e para toda a Cúria, Comunidade, Congregação, Paróquia, Movimento eclesial e podem atingir quer em nível individual quer comunitário”.

Por essas e outras razões tenho dito publicamente: o Papa Francisco talvez seja uma das últimas oportunidades históricas de a Igreja Católica rever, em definitivo, alguns de seus conceitos e atitudes que provocaram ao longo de vários anos inúmeras dissensões entre os cristãos. E, nesse sentido, pensar numa Igreja que seja mais Cristo e menos Igreja.

P.S: Para ler o discurso na íntegra, acesse: http://pt.radiovaticana.va/news/2014/12/23/discurso_do_papa_francisco_%C3%A0_c%C3%BAria_romana_%E2%80%93_texto_integral/1115846

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