Ferreira Gullar

5 de dezembro de 2016 - 15:47, por Moacir Poconé

Por Moacir Poconé

Ferreira Gullar era considerado o maior poeta do Brasil

Ferreira Gullar era considerado o maior poeta do Brasil

Faleceu no último domingo aquele que era considerado o maior poeta brasileiro em atividade: Ferreira Gullar. Um verdadeiro artista multicultural, o poeta maranhense além de ser considerado um dos maiores poetas de sua geração, também se destacou nas artes plásticas, em traduções e mesmo em participações na televisão e na música. Foi ativista político e lutou contra a ditadura militar no Brasil. Notabilizou-se por sua poesia de cunho social, de linguagem direta, como também em poesias líricas e concretistas. Seu poema “Poema Sujo” é tido como um dos mais representativos de nossa Literatura. Temos abaixo alguns exemplos da rica obra de Ferreira Gullar.

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.

Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

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