A 1a. Pedra da Gestão Empreendedora: nossa emoção!

12 de dezembro de 2016 - 13:21, por Dager Aguiar

Os compositores Ataulfo Alves e Mário Lago (1943) nos presentearam com uma versão popular do legado do apóstolo João (95 d.C.) sobre a atitude de julgar: “… atire a primeira pedra, aí, aí, aí, aquele que não sofreu por amor”. Maria Betânia e Gal Costa também nos encantaram com os versos de Herivelto Martins e David Nasser (1958) “… atiraste uma pedra no peito de quem só te fez tanto bem e quebraste um telhado, perdeste um abrigo e feriste um amigo.”

A temática do ”julgamento” faz parte dos dilemas do ser humano e resgatá-la em verso e prosa nos fortalece o lembrar de que toda cautela é pouca na ação de julgar. Tomar decisões quando as emoções nos sequestram a razão é o maior de todos os riscos do empreendedor e com consequências devastadoras. O descontrole emocional nos leva a perder amigos e pessoas queridas em nossa vida pessoal. E na dimensão profissional a ausência da gestão da emoção pode nos levar a perder bons negócios e boas oportunidades de emprego. O que fazer então?

O psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury em seu livro Gestão da Emoção (2015) afirma que ”… sem liderar o mais rebelde, fascinante e importante dos mundos, a emoção, não é possível dar musculatura ao pensamento estratégico, à arte de negociar, à habilidade de se reinventar e ser proativo.”  Cury nos lembra que gerenciar nossas emoções e nossos pensamentos é a base de todos os treinamentos, profissional, educacional e interpessoal e que essas duas gestões, das emoções e dos pensamentos completam o gerenciamento global da mente humana. Então, para desenvolvermos habilidades nessas dimensões, o autor apresentou 8 técnicas para a gestão da emoção as quais denominou de MegaTGEs.

A 1a. Mega TGE trata de reeditar e reconstruir nossa memória. Não é possível apagar nossos medos nem nossas mágoas, pois quanto mais se tenta mais elas se fortalecem. A orientação aqui é seguir em frente reescrevendo novas e melhores histórias de vida. Imagine-se num ambiente fechado com muitas telas, pincéis e tintas para você colorir. E você começa a pintar essas telas. Ao concluir sua primeira tela e olhando-a não gostou do resultado. Você pode decidir investir muito de seu tempo tentando apagar essa tela, mas quem já teve a experiência de pintar um quadro ou ainda colorir um desenho vai lembrar que é praticamente impossível apagá-lo pois quanto mais se mexe mais estranho o quadro vai ficando. Por outro lado, você pode decidir pintar um novo quadro e assim conceber uma nova tela e, se considerarmos o aprendizado adquirido com a primeira pintura somado à vontade de fazer melhor, terá grande chance de produzir uma pintura mais bela. Assim pode ser a nossa vida. Depende de nossas escolhas e nossos esforços. Mas se na segunda, terceira ou ainda após inúmeras tentativas também não gostar de suas pinturas, não desista, siga em frente e continue pintando uma vida melhor. Infelizmente há quem escolha ficar olhando as pinturas antigas, que permanecem no nosso cérebro, visto que dele nada se pode apagar. Mas é importante refletirmos que se investirmos muito tempo nesse olhar o passado, estaremos consumindo uma significativa energia que poderia estar sendo utilizada na construção de nossas novas pinturas. Assim são as histórias que se acumulam em nossa vida, e o que faremos com elas definirá o nosso futuro.

A 2a.Mega TGE trata de desarmarmos armadilhas mentais para construirmos relações saudáveis. A orientação agora é pensar antes de reagir e focar no que há de positivo antes de apontar os erros das pessoas. Como você acha que é possível construir relações saudáveis: estando de olho nos tropeços daqueles com quem convivemos ou ajudando-os a saltar as pedras do caminho? Imagino que deve ser simples a escolha acima, mas por que então ela não se traduz em nossa prática mais frequente? Porque reagimos por instinto e nos falta treinamento nessa habilidade. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) dizia que ” A educação tem raízes amargas, mas os frutos são doces” para expressar a importância de educarmos nossas vontades e desejos se quisermos viver de forma harmoniosa. E quais não são os frutos que os pais colhem da educação de seus filhos que não sejam a satisfação de vê-los felizes. Pois também para Aristóteles o objetivo da ética era a felicidade que por sua vez era fruto da excelência moral obtida no equilíbrio entre o excesso e a falta das emoções. Assim, disparava “o homem que é prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz.”

A 3a.Mega TGE vem como ferramenta para a construção da felicidade inteligente e da saúde emocional. É uma técnica que depende de 7 atitudes que devemos trabalhar diariamente, quais sejam:

1. Ser fiel à consciência;
2. Contemplar o belo;
3. Encantar-se com a existência;
4. Ser altruísta;
5. Pensar como humanidade rompendo o individualismo;
6. Doar-se sem esperar contrapartida de retorno;
7. Adquirir estabilidade emocional.

A 4a. Mega TGE busca nos ajudar a fazer um mapeamento dos fantasmas mentais e superação de conflitos para construirmos uma saúde emocional. Essa técnica nos faz refletir sobre os fantasmas mentais que sabotam nossa qualidade de vida, tais como:

Timidez e insegurança; Autopunição; Sentimento de culpa; Sentimento de vingança; Complexo de inferioridade; Ciúme; Fragmentação da autoestima; Fobias (social, claustrofobia, fobia de animais, etc); Baixa capacidade de aceitar frustrações; Irritabilidade e impaciência; Dificuldade de pedir desculpas; Angústia; Impulsividade; Ansiedade; Depressão e outros.

A 5a. Mega TGE fala da sustentabilidade das empresas e a busca de crescer com as crises. Com essa técnica o autor nos traz algumas reflexões comparativas entre a psicoterapia e o coaching. A psicoterapia se faz somente em tempo de conflito, enquanto o coaching se faz também em tempo de paz. Assim, a psicoterapia é indicada quando uma doença psíquica está instalada, enquanto o coaching é indicado para prevenir doenças emocionais, financeiras e sociais. A lição é que devemos nos preparar para enfrentar as dificuldade que ainda não surgiram treinando as habilidades o tempo todo e buscando sempre pensar em múltiplas possibilidades.

A 6a. Mega TGE se dedica a arte de observar o invisível e ouvir o inaudível no processo de construção de mentes empreendedoras e inovadoras e na formação de líderes. Destaca o autor que os inteligentes aprendem com os erros e os sábios aprendem com os erros dos outros e que a dor nos constrói e que ninguém é digno do pódio se não utilizar os fracassos para alcança-lo. Nessa técnica o autor também apresenta as bases para a construção do pensamento estratégico que dependem de todo esse processo de gerenciamento da emoção.

Na 7a. Mega TGE aprendemos a filtrar estímulos estressantes para proteger a emoção. Assim é preciso filtrar estímulos estressantes para cuidar dos ataques da memória, filtrar estímulos estressantes para não mergulharmos em histórias que não são nossas, igual aquelas dos programas policiais que nos invadem a hora das refeições. Também nessa técnica se apresenta o perdão como um ato de inteligência e principalmente o autoperdão que é um grande desafio de perdoarmos a nós mesmos.

E finalmente na 8a. Mega TGE o autor descreve os oito tipos mais importantes de comportamento que elevam o nosso Gasto de Energia Emocional Inútil, que foi chamado pelo autor de GEEI. Segundo ele o maior erro da espécie humana não está na devastação dos recursos naturais do planeta mas nos recursos de nossa mente. Destaca o autor que reclamar só aumenta o índice de GEEI. Quem reclama o tempo todo da sociedade, dos políticos corruptos, da crise econômica, da violência social está esgotando o cérebro com maior facilidade e ainda ficando mais vulnerável a problemas de saúde física como dores de cabeça, déficit de memória, cansaço e irritabilidade. Esses problemas são conseqüência de uma nova síndrome denominada pelo autor como “Síndrome do Pensamento Acelerado” (SPA) que é produzida por uma hiper construção de pensamentos, numa velocidade tão alta que estressa e desgasta o cérebro. Isso tudo é resultado do excesso de atividades e de estímulos sociais que somos submetidos diariamente, e que nos impede o desenvolvimento da inteligência e da ação de refletir antes de reagir. Um maior aprofundamento das questões da SPA é apresentado em outro livro de Augusto Cury chamado ANSIEDADE (2013).

Finalmente, precisamos ter uma atenção especial ao que aqui chamamos de “A 1a. pedra da gestão empreendedora: nossa emoção”. O exercício das técnicas de gestão da emoção, apresentadas acima, vai nos ajudar, logo no início de nossos projetos empreendedores, a avaliar se estamos mesmo com uma boa idéia ou se não estamos conseguindo enxergar além de um sonho pessoal. E você, está dormindo ou sonhando acordado em chão firme com seu projeto de vida? Então até o próximo Empreendedorismo e Gestão.

Por Dager Aguiar