Empreender como Propósito de Vida!

31 de janeiro de 2017 - 11:19, por Dager Aguiar

A palavra “propósito” em latim significa “aquilo que eu coloco adiante”, ou seja, o que me guia, ou ainda, o que me faz seguir caminhando. Uma vida com propósito é aquela em que eu entenda as razões pelas quais faço o que faço, segundo o filósofo e escritor Mario Sérgio Cortella em seu livro “Por Que Fazemos o Que Fazemos” (2016). De acordo com Cortella a idéia de propósito está marcada por um conceito que já existiu e voltou agora com mais força: o de realização. E observo que atualmente a busca dessa realização parece vir surgindo cada vez mais cedo na vida das pessoas, ou pelo menos a externalização dessa necessidade. Não me recordo de na minha adolescência estar preocupado com esse conceito e nem muitos de meus amigos. Assim, comia o que meus pais me serviam. Se tinha um trabalho a fazer, fazía-o. Havia um ciclo para se dormir. Enfim, vivíamos e ponto. Vejo um retorno dessa necessidade de realização como fruto de um diferente modelo de educação, quem sabe um novo padrão geracional onde filhos precisam escolher muito bem o que comer para se realizar, questionar bastante antes de fazer qualquer trabalho e dormir apenas na hora que também desejam, tudo em função dessa chamada necessidade de realização. Bom, o filósofo aqui é Cortella, e não pretendo com meus registros acima menosprezar a importância do conceito de realização, em virtude desses possíveis e algumas vezes até frequentes desvios de sua essência. Mas a palavra realizar, também do latim, significa “tornar real” e para alguma coisa se tornar real é preciso que ela seja feita. O filósofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831),  que introduziu o conceito da dialética, dizia que o “ser” é subjetivo e para se tornar real é preciso “fazer”. Na chamada lógica hegeliana a realidade é essencialmente a mudança, uma passagem de um elemento ao seu oposto. 

Acredito que ninguém tem melhor essa capacidade de transformar idéias em realidade que o EMPREENDEDOR. No empreendedor vejo uma sintonia muito forte entre o pensar e o fazer. Assim, o empreendedor é o responsável por tornar real o mundo das idéias. Também ninguém melhor do que o EMPREENDEDOR para o exercício da contradição em busca de solução. Na dialética de Hegel as contradições são a base para se chegar à solução dos problemas. Também dizia o filósofo: “Nada existe de grandioso sem paixão.!” Empreender é se apaixonar por uma visão que precisa se tornar real. Esse é o universo do empreendedorismo e ouso dizer ainda que o empreendedor tem como propósito de vida empreender. E é isso o que lhe guia e o que lhe faz seguir adiante superando toda e qualquer adversidade. O empreendedor é ainda um mestre na dialética, o que daria orgulho ao filósofo Hegel, pois navega nos mares das contradições da economia e do mercado e chega ao porto seguro de seu empreendimento onde pode renovar seu espírito.

Querem mais pistas de onde encontrar um empreendedor? Então vamos fazer uma engenharia reversa de sua obra, ou seja, daquilo que se tornou real: o seu empreendimento. Mas para quem não está familiarizado com a engenharia reversa, um conceito mais difundido na área tecnológica, é o processo de descobrir os princípios tecnológicos e o funcionamento de um dispositivo, objeto ou sistema, através da análise de sua estrutura, função ou operação. Mas vamos lá, numa tradução bem simples seria desmontar um produto para entender a essência de seu funcionamento. Transportando para outras áreas, também podemos dizer que a engenharia reversa está na decomposição de um remédio para compreendermos a fórmula de sua química. Enfim, podemos levar esse conceito para muitos outros processos. Vamos então partir de um produto final, um livro por exemplo, e resgatarmos o processo de sua elaboração, voltando no tempo em cada etapa de sua construção até a idéia inicial que lhe deu origem.E observem que tudo isso também se mistura com o conceito de próposito que apresentamos no início e que busca sempre compreendermos os porquês.

Ainda aproveitando esse conceito vamos fazer um exercício de “engenharia reversa” do livro “OS INCANSÁVEIS” (2016). Trata-se do empreendedor Marcelo Benvenutti, que se apresenta no facebook como “especialista em Vale do Silício e extraordinário engajador humano”. Benvenutti, quando de sua mudança para o Vale do Silício, resolveu catalogar, em um diário, um conjunto de informações valiosas que lhe chegavam quotidianamente. Assim, todas as noites, durante 18 meses, registrou tudo que lhe chamava atenção nesse novo território e, quando menos esperava, já havia catalogado 150 páginas de anotações. A partir de incentivos de amigos essas informações foram transformadas em livro que chamou: Incansáveis – Como empreendedores de garagem engolem tradicionais corporações e criam oportunidades transformadoras, publicado pela Editora Gente em 2016. Ao observar a história da construção desse livro me veio a mente a idéia de que uma boa dose de disciplina e organização de registros pode levar qualquer um de nós a estruturar nosso próprio livro. Que tal fazermos essa experiência. Vamos empreender? Não importa se não chegarmos a lista dos mais vendidos nas livrarias mas com certeza chegaremos a um importante resgate de nossa própria história de vida. Então, vamos começar a escrever um diário com tudo o que percebemos de valor em nossa vida. Ao longo desse exercício também estaremos resgatando um conjunto de valores que vão nos ajudar a entender por que fazemos muito do que fazemos e assim poderemos dar novos saltos. E não é verdade que dizem que entre as coisas muito importantes da vida de todo ser humano está escrever um livro. Pois assim, não vamos perder essa oportunidade. Então até o próximo Empreendedorismo e Gestão.

 Por Dager Aguiar