Adriana Andrade: “Estamos preparando profissionais para atuar na região”

19 de fevereiro de 2017 - 13:05, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

Nesta semana, o Portal Lagarto Notícias entrevistou a diretora geral do campus Lagarto da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Adriana Andrade, de 33 anos. Na ocasião, a gestora que é natural do município de Lagarto, falou dos desafios na gestão pública do campus, da importância das parcerias firmadas entre a instituição e o 7° Batalhão da Polícia Militar e Guarda Municipal, além daquelas acordadas com as cidades da região centro sul.

Entrevistada da semana

Entrevistada da semana

Adriana ainda falou das conquistas e das metas a serem alcançadas pelo campus Lagarto ainda em 2017. Ela também ressaltou a importância do método de ensino adotado pela instituição, argumentando que este torna os alunos mais humanos e prontos para atuar em regiões pouco valorizada pela classe médica.

Andrade também fez um alerta acerca dos riscos de se ingerir medicamentos naturais, os chamados fitoterápicos. Por fim, acompanhe a Entrevista da Semana na íntegra:

 

PLN: Quem é a professora Adriana?

Adriana: Eu sou uma pessoa como qualquer outra. Uma lagartense que sempre quis ser professora, mas que ingressou na faculdade para cursar farmácia, pois queria ser pesquisadora, e para ser pesquisador no Brasil você tem de entrar numa universidade. Daí acabei sendo professora e me identifiquei muito, até que os caminhos da vida me tornaram a gestora do campus Lagarto da Universidade Federal de Sergipe, mas eu nunca pensei em chegar a tal ponto.

PLN: Uma vez pesquisadora, quais são as suas contribuições para o mundo da ciência?

Adriana: Minha linha de pesquisa é em oncologia experimental e clínica. E desde o meu mestrado eu tenho orientado alunos, que têm trabalhado comigo em pesquisa tanto de bancada quanto com paciente em prol do desenvolvimento tanto de novos fármacos com potencial antitumoral, quanto também estudando os efeitos colaterais do quimioterápicos. Além disso, a gente também estuda o uso de plantas medicinais por pacientes oncológicos.

PLN: Quais os riscos de se ingerir medicamentos naturais prescrição médica?

Adriana: As plantas medicinais, os fitoterápicos, eles têm eficácia comprovada. Porém o seu uso deve ser orientado por um profissional que entende da área, porque – como qualquer medicamento – ele também tem efeitos colaterais, e o uso indiscriminado de medicamentos pode acarretar em problemas irreversíveis ou não no paciente.

PLN: Desde o início de 2017 a senhora dirige o campus Lagarto da Universidade Federal de Sergipe. Qual a sensação de comandar uma universidade na cidade em que te viu nascer?

Adriana: É emocionante porque quem iria prever que eu voltaria para cá? Minha mãe sempre fala: “Quem diria”. Meus pais são de uma família pobre, que saiu lá de Aquidabã rumo a Lagarto, e ai a filha se forma, faz mestrado, doutorado e volta assumindo um cargo de gestão numa universidade na cidade em que nasceu. Então tudo isso parece coisa do destino mesmo.

PLN: E sua experiência à frente do campus Lagarto, como tem sido?

Adriana: Eu tenho aprendido muito. Até chego a comentar que tenho somente um mês à frente da diretoria geral e três anos na direção pedagógica, e o que aprendi nesses três anos, acho que não aprenderia em 10 anos. Eu aprendi muita coisa, errei muito também, mas errei tentando acertar.

PLN: Quais os principais aprendizados?

Adriana: Aprendi como funciona uma gestão pública, como funciona uma universidade, o quanto é difícil gerir um órgão público e a lidar com pessoas que pensam diferente. Além de aprender como lidar com desafios e na dificuldade tentar resolver o problema. Então a gente aprende a tocar o barco quando a situação não é favorável.

PLN: Durante seu aprendizado, a senhora teve de lidar com a burocracia, que muitos brasileiros reclamam. Mas em sua concepção, a burocracia dentro da gestão pública é necessária ou poderia ser mais flexível?

Adriana: Infelizmente ela é necessária, apesar de atrapalhar muito. Porém, a gente sabe que existem pessoas e pessoas, e a burocracia existe justamente para que o gestor não venha a fazer algo errado. Por isso, que sempre que queremos fazer algo nós temos que solicitar permissão, aguardar ser aprovado na lista de espera, ser questionado sobre determinado serviço, equipamento ou produto… então a gente sabe que isso é para garantir que nossas ações sejam de fato para o bem comum.

PLN: Qual ocorrido marcou a senhora dentro do campus Lagarto?

Adriana: O que mais me marcou foi quando nos mudamos para cá. Saímos do Polivalente, após um processo de mudança bastante cansativo porque estávamos com os servidores técnicos e professores em greve. Então poucas pessoas fizeram a mudança. Mas quando nos mudamos e realizamos as nossas primeiras atividades aqui, foi o momento que mais me marcou.

PLN: Certa vez uma doutora afirmou que a universidade nunca estará 100% pronta, devido ao rápido desenvolvimento das coisas. Então, quais são os atuais desafios da UFS Lagarto?

Resposta: Um dos maiores desafios da gente é terminar a obra do Centro de Simulações e Práticas – que é um prédio que não se tem no Brasil, pois nele é realizado uma simulação de uma UTI, maternidade -, terminar o Restaurante Universitário e o grande desafio de formar a primeira turma de odontologia e medicina, depois disso veremos que nosso campus estará consolidado.

PLN: Já existe um prazo para a construção do Restaurante Universitário?

Adriana: Nós já conseguimos basicamente tudo: a empresa que fará o alimento, a catraca, as mesas que já estão no Centro de Vivência. Só está faltando os cercamentos de vidro, que já prorrogamos o prazo para a empresa executar o serviço, mas não executa – esse é um dos ônus da gestão pública, no qual temos o processo licitatório, tendo que cumprir todos os passos do processo.

Essa empresa tem até essa quarta para executar a obra, que possivelmente não executará, então na segunda-feira terei uma audiência com o reitor para vermos os próximos passos legais. Isso é uma das desvantagens da burocracia, porque se fosse uma instituição privada já teríamos outra empresa executando o serviço. Se a empresa tivesse executado as obras, já teríamos o Resun em funcionamento.

PLN: No início da semana, a UFS informou que daria início a um projeto de arborização do campus Lagarto. Esse projeto era uma demanda dos alunos?

Adriana: Todo esse campus é divido em vários projetos: I, II e III. E a parte de urbanização e arborização é o projeto III, mas ele também soma a uma demanda dos alunos e professores, que a gente já explicava que temos que observar o período certo para o plantio, pois sabemos que Lagarto é muito seco, o que nos obriga a plantar no período antes da chuva.

Na virada do ano, solicitei a limpeza do campus. Possivelmente, na próxima semana – em parceria com a Prefeitura de Lagarto – faremos a limpeza da área externa. Além disso, nós já temos todas as mudas, o aparelho que faz o buraco. Então estamos apenas esperando o período certo que é de março para abril.

PLN: Qual a importância do método de ensino utilizado pelo campus Lagarto na formação de novos profissionais da saúde?

Adriana: Tanto o método tradicional como o ativo, que a gente chama de PBL, eles funcionam. Mas o PBL trabalha outras coisas que o tradicional não trabalha, por exemplo: a metodologia ativa faz com que o aluno seja responsável pela sua aprendizagem. Então ele exige mais do aluno, e nesta metodologia o aluno aprende onde estudar, a lidar com o colega e a ouvir críticas.

Portanto, o aluno acaba não somente aprendendo o conteúdo, como também a competência profissional, a habilidade técnica e como passar o seu pensamento. Então eu acredito que a metodologia ativa consegue trabalhar o profissional como um todo.

PLN: Então este método forma profissionais mais humanos?

Adriana: Sim, porque desde a primeira semana de aula o aluno vai até uma comunidade. No primeiro ano eles acompanham o agente comunitário de saúde, indo até os povoados e lá eles vêm e vivenciam aquela realidade.

PLN: Seria um projeto de ensino inspirado na medicina cubana, na qual os médicos vão até o problema?

Adriana: Nós não esperamos o paciente vim com o problema, a gente vai até eles. E o legal é que muitas das vezes os alunos acabam acompanhando a trajetória de uma família. Então eles vêm uma paciente gestante, vêm o parto dessa criança e o seu desenvolvimento. Então eles acabam vendo a verdadeira realidade, porque a faculdade costuma ensinar a utopia.

Então a metodologia vem do Canadá, o PBL é uma metodologia utilizada por universidades de ponta, e aqui em Lagarto nós temos algo que não temos no Brasil, que o campus onde todos os cursos são em PBL. Nossos oito cursos da saúde são em PBL.

PLN: Como tem sido a relação entre comunidade acadêmica UFS com o povo de Lagarto?

Adriana: Tem sido muito boa. Eu gosto de falar que o bom de trabalhar no interior é que a comunidade valoriza a gente daqui da universidade. Então a gente consegue desconto em restaurante, e quando fala que é aluno da UFS tem aquele tratamento diferenciado e na capital não tem isso. Portanto, a população de Lagarto tem recebido a gente muito bem.

PLN: Como o município de Lagarto tem impactado na desenvoltura do campus da UFS?

Resposta: Mais do que a gente está ensinando, porque como é uma metodologia ativa, a gente foca na realidade local da região para saber o que aprofundar e trabalhar com os alunos. Por exemplo, nós buscamos saber quais os principais problemas de saúde da região porque estamos preparando profissionais para atuar na região em estamos inseridos.

PLN: Esse seria um método para combater o velho hábito de médicos que se recusam a trabalhar no interior?

Adriana: A gente acredita porque temos poucas turmas formadas. Mas temos observado que tem muitos alunos que querem atuar aqui ou que querem retornar para sua cidade para trabalhar lá. Esse método acaba sensibilizando os alunos a respeito do quanto eles são importantes no interior o que acaba tornando-os mais humanos.

É fato que muitos médicos não têm interesse de ficar no interior, mas temos que ver o outro lado, pois é necessário um plano de carreira que possa atrair esses profissionais e isso já foge do próprio município e da nossa alçada. Porém, recebemos relatos de muitos alunos que querem mudar essa realidade. Tenho certeza que nossos profissionais são e sairão mais humanos, o resto só saberemos com o tempo.

PLN: Qual a avaliação que a senhora faz das parcerias que o campus Lagarto tem firmado com o 7°Batalhão da Polícia Militar e Guarda Municipal de Lagarto?

Adriana: No início a gente sofreu muito, porém essas parcerias foram essenciais para garantir mais segurança, principalmente, no entorno do campus. A criminalidade diminuiu bastante. No início a gente tinha alunos chorando, e a gente ficou numa situação preocupante. Mas foi algo que a gestão conseguiu resolver logo porque tanto o batalhão como a Guarda Municipal foram muito solícitos conosco. Essas parcerias foram fundamentais para a nossa segurança.

PLN: E qual a avaliação que a senhora faz entre as parcerias firmadas entre a UFS e os municípios da região centro sul?

Adriana: Nós temos uma ótima parceria com o município de Lagarto, na qual temos os nossos alunos na rede. Então nós temos uma boa parceria com a Prefeitura de Lagarto como um todo, e nas secretarias que podemos estar atuando, sempre fomos muito bem recebidos por todos.

A proposta do nosso campus, que veio através do Reuni, é de justamente impactar na nossa região. Então nós temos alunos em Simão Dias, estamos construindo um centro de reabilitação naquela cidade em parceria com a Prefeitura. Agora estamos estudando outra parceria com o município de Poço Verde. E essas parcerias são importantes pra gente porque temos alunos que vieram desses municípios. Essas parcerias fortalecem o nosso ensino.

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