Empreendedorismo Musical

22 de maio de 2017 - 10:55, por Dager Aguiar

Uma visão romântica do empreendedor nos leva a associá-lo àquele com ideias grandiosas, visionárias, ideias que alguns dicionários nos apresentam como extravagantes ou quiméricas. Entretanto, a realidade do empreendedor na maioria das vezes não tem nada de romântica ou fantasiosa, embora não se possa abrir mão do adjetivo visionário. Mas, aquele visionário que tem a capacidade de ver além dos seus horizontes, como quem prevê a direção da humanidade de alguma forma. O visionário que nos traz ideias com o tempero de alguma novidade. Se assim não fosse provavelmente estaríamos vivendo como nossos pais, ou será que você é quem “ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”? Espero que os leitores me perdoem este assalto a poesia de Belchior, cantor e compositor cearense falecido no final do mês passado, mas é com suas palavras e um pouco de sua história que vamos introduzir o perfil do empreendedor no universo do empreendedorismo musical.

Belchior era um compositor, de vasta erudição (estudou filosofia e medicina) e ainda de uma poesia refinadíssima. Um expert na arte de compor, cujos versos foram cantados por importantes intérpretes da música brasileira como a cantora Elis Regina. Ele foi um dos primeiros cantores de MPB do nordeste brasileiro a fazer sucesso nacional, em meados da década de 1970. Seu álbum Alucinação (1976) foi considerado por vários críticos musicais como o mais revolucionário da história da MPB e um dos mais importantes de todos os tempos para a música brasileira,  tendo vendido mais de 30 mil cópias em um mês. Imaginem o impacto desses números da década 70 no mundo de hoje onde os negócios podem ser “viralizados” na internet com um potencial comercial instantâneo e explosivo. Belchior lançou mais de 20 álbuns, fundou sua própria gravadora e apoiou e inspirou muitos de minha geração que se achavam “apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior. ”

Mas o que dizer do empreendedorismo musical? Será que arte, música e empreendedorismo podem andar juntos? De acordo com o Diretor de Desenvolvimento de Carreira Musical da Escola de Música Berklee em Boston (EUA), Peter Spellman, todo bom músico tem muitas das características necessárias para serem excelentes empreendedores. Spellman é autor de vários livros nessa área, todos na língua inglesa, e cujos títulos traduzi para o português como: Um Guia Passo-a-Passo para Empreendedores Musicais no Século 21 (2009), Planeje sua Banda (2009), Como Lançar um CD de Sucesso (2010) e A Força de Marketing das Gravadoras Independentes: Um Guia para Maximizar o Marketing de sua Música (2012). Nesta última publicação, Spellman faz um interessante paralelo entre Habilidades Musicais e Competências Empresariais concluindo que elas apresentam fortes características comuns, identificadas através de entrevistas com vários músicos profissionais. O autor buscou saber como os músicos aprimoraram suas habilidades musicais e como essas habilidades os tinham conduzido ao sucesso como empreendedores. Os músicos entrevistados relacionaram algumas das mais importantes características que todo bom empreendedor deve ter, tais como: autodisciplina; atenção aos detalhes; capacidade de serem excelentes ouvintes, e assim estarem sempre aprendendo e se desenvolvendo; capacidade de assimilar bem as críticas; persistência e foco; autoconfiança e elevada autoestima; adaptabilidade; excepcional capacidade para resolução de problemas; elevada criatividade e capacidade de inovação; resiliência na incerteza, além de outras.

Mas se o músico empreendedor está efetivamente equipado com todas as habilidades acima, então o estereótipo do músico romântico, sonhador e sem habilidades negociais seria apenas um mito? Nesse caso, torna-se imprescindível uma análise mais abrangente da realidade do empreendedorismo musical. Encontramos na publicação de Leonardo Salazar, “Música Ltda. – O negócio da música para empreendedores”, publicada pelo Sebrae em 2015 uma importante fonte de consulta para empreendedores do setor musical. Salazar, empresário artístico, técnico em contabilidade, e especialista em gestão de negócios, nos apresenta uma sistematização da indústria da música composta de três espécies: a) show business (o mercado da música ao vivo); b) indústria fonográfica (o mercado da música gravada); c) direito autoral (o mercado da obra musical). O show business diz respeito à cadeia produtiva que gira em torno da apresentação musical e do artista. Já a indústria fonográfica envolve a distribuição (física ou digital) de fonogramas e videofonogramas para o comércio atacadista e o comércio varejista, ou diretamente para o público. E o direito autoral abrange a exploração econômica dos direitos de autor e dos que lhe são conexos. E nesse ecossistema da música sobrevivem muitos diferentes atores, quais sejam:

Advogado, Agente (booking agent), Artista (intérprete), Autor (compositor), Contador, Contratante, Designer, Distribuidora, DJ (Disc Jockey), Editora, Empresário artístico (manager), Fornecedores, Governo, Gravadora (selo), Imprensa, Mídia eletrônica (rádio e televisão), Músico autônomo, Produtor executivo, Produtor fonográfico, Produtor musical, Promoter, Público, Tour manager, e o Varejista.

Como vemos acima são muitos os papéis e nem todos poderão ser desempenhados pelo músico empreendedor. Acredito que a grande maioria vai procurar distância do trabalho comercial delegando-o para gravadoras, vendedores, empresários, agentes, produtores. É fundamental para o empreendedor reconhecer quando não possui conhecimentos teóricos, habilidades técnicas e atitudes necessárias para administrar o próprio negócio. Não é raro identificarmos um empreendedor musical que não tem a percepção tempestiva dessa divisão de papéis. Sabemos que um show sem emoção acaba com a imagem de qualquer músico, mas também não podemos nunca esquecer a 1a. Pedra da Gestão Empreendedora: nossa emoção, que já abordamos nesta coluna no final do ano passado. Tomar decisões quando as emoções nos sequestram a razão é o maior de todos os riscos do empreendedor e com consequências devastadoras. Assim, espero que, aonde quer que ele esteja, também me perdoe meu conterrâneo Belchior que com seu Coração Selvagem (1977):  “ …não quer o que a cabeça pensa, mas o que a alma deseja… e essa pressa de viver e esse jeito de deixar sempre de lado a certeza e arriscar tudo de novo com paixão ao andar caminho errado pela simples alegria de ser…”

Então, até o nosso próximo Empreendedorismo e Gestão.

Por Dager Aguiar

 

 

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