VIOLÊNCIA, VIOLAÇÃO DOS DIREITOS E LUTA PELA PAZ*

19 de fevereiro de 2018 - 22:34, por Claudefranklin Monteiro

A Campanha da Fraternidade nasceu num contexto de necessidade de mobilizar as pessoas para uma prática de ação social efetiva, por meio da arrecadação de fundos para a superação da pobreza e das desigualdades no Brasil.

Sua primeira iniciativa foi local, registrada no Rio Grande do Norte, em 1961. Dois anos depois, a CNBB tornou-a nacional. E assim, segue até o tempo presente, com dois perfis bem claros: assistir e promover a condição humana.

Em 2018, o Tema é Fraternidade e Superação da Violência. E o lema foi extraído do Evangelho de São Mateus “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

Comumente a violência é representada por uma ação física abusiva que lesa o agredido, como um assalto a mão armada ou assalto seguido de morte da vítima, crimes que têm se tornado comuns no Brasil, geralmente praticados por menores infratores.

Nesse sentido, é preciso entender que a violência está para além disso. A Campanha da Fraternidade de 2018 é um convite para pensar este mal a partir da violação dos direitos humanos. O documento norteador fala das múltiplas formas de violência. E como são muitas, a julgar pelo tempo em que estamos vivendo, a Quaresma, fizemos uma espécie de atualização das sete chagas de Cristo e as relacionamos ao que entendemos ser, atualmente, as sete chagas sociais, a saber:

  1. A violação aos direitos da infância (aborto, trabalho e exploração infantil, pedofilia e maus tratos). Jesus Cristo foi muito claro sobre o que acontecerá com aqueles que maltratarem os pequeninos. Cada vez mais expostos e à mercê das maiores barbaridades, as crianças estão mais vulneráveis do que nunca, do nascimento à morte na idade mais tenra.
  2. A violação aos direitos da juventude (o tráfico e o uso das drogas e a prostituição). Foi-se o tempo em que nossos jovens só sonhavam com o lema paz e amor, desvirtuado de seu sentido mais puro e concreto. A prometida Era de Aquário não conseguiu preencher o vazio deles e os traficantes roubam seus projetos e perspectivas.
  3. A violação ao direito de envelhecer (o abandono do idoso e a Previdência Social). Uma sociedade que não respeita o legado construído pelos mais velhos, que não os acolhe e protege não merece respeito. A reforma da Previdência não pode estar apenas restrita aos clamores do mercado e do capital.
  4. A violação aos direitos sociais (moradia, educação, saúde, trabalho e cultura). A corrupção é, efetivamente, um câncer social avassalador e retira de uma maioria absoluta uma condição digna de vida. Falta casa para morar, escola pública de qualidade, políticas públicas de saúde eficientes e humanitárias. Mais preocupante do que o desemprego é a incerteza pela possibilidade do emprego.
  5. A violação aos direitos da mulher e das minorias (agressões e crimes domésticos, os afrodescendentes, os índios e as opções sexuais e novas formas de convivência). É inimaginável acreditar que um país com tantos anos de história, com tantas páginas de superação, ainda não aprendeu que somos se não todos iguais, ao menos somos passíveis de respeito. A ideia de irmandade proposta pela CF tem como mote a misericórdia e a concórdia e o fim, em definitivo, da truculência e da discriminação.
  6. A violação ao direito de ser livre. Todos esses males nos tornam reféns de nossas próprias moradias. Já não são suficientes grades, pérgolas, cercas elétricas, alarmes, vigilantes e câmeras. Vivemos em cárcere privado, sem tornozeleira, ao menos eletrônica. O meliante nos toma de assalto na porta, na varanda, no sítio e é solto à primeira oportunidade para cometer mais crime.
  7. A violação ao direito de viver e morrer. Efetivamente, chegamos a um quadro de grandes desesperanças, pois não sabemos até quando vamos viver e se viveremos muito e com saúde ou se teremos nossa vida ceifada das formas mais absurdas, como a consequência de uma bala perdida, por exemplo.

O que fazer, então, para que essas chagas sejam curadas, e que ao menos possamos recobrar o viço da vida e o ânimo de viver? Via de regra, o caminho será o da superação da violência e o da busca pela paz, que, necessariamente deverá passar por um TRIPÉ.

Primeiro, pela indignação. Não estamos nos referindo à raiva ou aos acessos de ira, tão comuns quando somos vítimas de violação de toda ordem. A compaixão é a atitude indignada do cristão. Livrar-se da inércia e da indiferença, da apatia e do comodismo. Agir como o Cireneu: tomar sobre si a cruz do outro.

Segundo, denunciar. Não o denuncismo por si mesmo. A prática arrotiva do apontar e condenar, mas “o jeito honesto de denunciar” de Jesus, verificada na canção Um Certo Galileu (1975), de Padre Zezinho e à luz do princípio do admoestar-nos uns aos outros com caridade. Cobrar das autoridades constituídas que cumpram com suas obrigações constitucionais e legais.

Por fim, a prática do bem e da justiça. Carente de ações que reparem danos ao erário público, a sociedade brasileira precisa entender que somente agindo com ética, ensinando aos nossos filhos valores há muito abandonados pelos relativismos e pelo cinismo social, prevalecerá a necessidade de promover o bem-comum e garantir a todos e todas os direitos fundamentais da vida humana, bandeiras do Cristianismo desde o seu nascedouro.

A fraternidade implica no reconhecimento de nossa irmandade em Cristo. Nós somos irmãos. Essa consciência deve mover nosso pensamento e nossas ações, dentro e fora da Igreja, sendo sal e luz para o mundo, tomados e revestidos de uma paz que seja inquieta e transformadora.

* Texto produzido a partir de fala de encerramento da Caminhada pela Paz, em 19 de fevereiro de 2018. Lagarto-SE.

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