Major Arthur: “A sociedade não quer desculpas, a sociedade quer que os crimes cessem”

20 de maio de 2018 - 05:00, por Marcos Peris

Portal Lagarto Notícias

Nesta semana, o Portal Lagarto Notícias entrevistou o novo comandante do 7º Batalhão de Polícia Militar (7ºBPM), Major Flávio Arthur Azevedo Ervilha, de 42 anos e natural do município mineiro de Inhapim. Bacharel em segurança pública, Ervilha tem pouco mais de 20 anos de Polícia Militar.

Ao Lagarto Notícias, o Major contou que desembarcou em Sergipe ainda na década de 90, quando sua família migrou para o estado para trabalhar na Usina Hidrelétrica de Xingó. Mas como um apaixonado que é pela polícia, o mesmo ingressou na corporação sergipana em 1997 e até hoje registrou serviços no batalhão de Canindé de São Francisco e comandou o Batalhão de Choque, do qual foi transferido para o 7ºBPM.

Nesta entrevista, o Major Ervilha destrinchou as dificuldades enfrentadas pela segurança pública estadual, bem como apresentou o seu posicionamento sobre o combate ao tráfico de drogas, que segundo ele tem sido feito de maneira errada. Ele ainda falou ninguém acabará com a criminalidade e que o problema da segurança nos municípios de Lagarto e Riachão está ligado exclusivamente ao tráfico de drogas.

Major Flávio Arthur Azevedo Ervilha

Major Flávio Arthur Azevedo Ervilha

Confira a Entrevista da Semana na íntegra:

PLN: Quem é o Major Arthur Ervilha? De onde surgiu o interesse em ingressar na PM de Sergipe?

MA: O que me levou a Polícia Militar foi à vocação, porque sempre tive vontade de ser policial. Tanto que tive a oportunidade de fazer o concurso em 1996 e em 1997 já era policial. Além disso, me considero uma pessoa comum e simples que gosta de ser policial.

PLN: Como descreveria a sua trajetória na PM até desembarcar no comando do 7ºBPM?

MA: Não posso reclamar de nada. Graças a Deus! Porque se tinha algo a reclamar, eu já esqueci, mas estou satisfeito até agora. Claro que tive alguns percalços, porém tive muitos êxitos e ao somar vitórias e derrotas, creio ter mais vitórias. Então não posso reclamar não.

PLN: Ainda na PM, qual o maior desafio enfrentado pelo senhor?

MA: Por incrível que pareça, Lagarto está sendo um grande desafio, devido à estrutura que aqui está: nós temos alguns problemas de efetivo e de viaturas. Mas, como a gente vai encontrar desafios em qualquer lugar, à gente vai correr atrás para superá-los e tentar fazer um bom serviço.

PLN: Logo do desembarque, que avaliação o senhor fez da situação do 7ºBPM? Em sua opinião, o que precisa ser mantido, mudado ou mesmo implantado?

MA: É muito cedo para apontarmos o que está certo ou errado, porque primeiro temos que contextualizar as coisas levando em conta o momento em que estamos vivendo, a situação financeira do Estado, porque a questão de efetivo e viaturas não depende somente do desejo do governador. Se dependesse disso, ele resolveria o problema de todas as cidades.

Então a gente tem que contextualizar essas deficiências e tentar da melhor forma possível superá-las e correr atrás do prejuízo. A sociedade não quer desculpas, a sociedade quer que os crimes cessem. Cessar o crime a gente não vai poder, mas deixa-los ali numa margem aceitável. O termo é ruim de ouvir, mas a gente busca a margem aceitável, porque ninguém jamais vai acabar com o crime e se alguém disser que irá acabar com o roubo em Lagarto estará mentindo.

A gente pode diminuir o número de homicídios, mas não vai acabar, até porque a criminalidade não é uma questão somente de polícia, ela é um problema muito mais complexo, que tem mais haver com questões sociais do que com polícia propriamente dita. Por isso que só com policiamento não se acaba a criminalidade. Se não houver investimentos no social, a tendência da criminalidade é só aumentar no país inteiro.

PLN: Como a experiência obtida ao longo desses pouco mais de 20 anos de polícia o ajudará no comando do 7ºBPM? Que marca o senhor pretende implantar?

MA: Eu não vejo como marca, mas nós vamos botar o policial na rua para trabalhar. Não tem o que fazer! O policial é para estar na rua trabalhando, então é vestir a camisa e ir pra rua. Se trabalhar bem ótimo, se não quiser, que pegue as coisas e vá embora. Simples assim e sem muita conversa.

PLN: Como o senhor tem analisado os constantes roubos a celulares, que muitos dizem ser o resultado do tráfico de drogas?

MA: O tráfico de drogas é o grande estimulador desses outros crimes, pois esses pequenos furtos e roubos são para alimentar o tráfico e o vício. Então primeiro deveria se combater o tráfico, para depois combater esses pequenos roubos. E combater tráfico é difícil, principalmente, num país que, não sei se consciente ou inconscientemente, quem está à margem da lei recebe benefícios, pois você tem presidiário recebendo salário mínimo, enquanto a família da vítima não recebe nada. O consumidor é a coisa mais linda. Sou consumidor, mas quem que alimenta o traficante? O consumidor.

PLN: Então o atual modo de combate ao tráfico de drogas, em sua avaliação, está errado?

MA: Não somente isso, pois as nossas leis são muito permissivas. Nós temos recursos para tudo, a exemplo de um caso que houve aqui em Lagarto em que uma professora foi assassinada por causa de um celular na porta de casa, sendo que até pouco tempo atrás esse vagabundo estava solto. E vou dizer uma coisa: daqui a pouco ele está solto, daqui a três, quatro anos, ele estará pelas ruas de Lagarto e a família vai ter que conviver com ele. E ai? Que país é esse?

PLN: Uma reforma no código penal.

MA: Total. Nossas leis são muito permissivas.

PLN: Mudando de assunto. Em entrevistas, o senhor tem falado da necessidade da mudança das viaturas do 7ºBPM. Diante disso, o senhor já encaminhou algum ofício a SSP/SE?

MA: Temos que ter consciência que a secretaria, a Polícia Militar e o próprio Governo do Estado não têm como resolver essa situação. Eles não têm Lagarto, eles têm 75 municípios para resolver, e eu digo que o problema são os 75 municípios, alguns com problemas maiores e ou menores. Mas problemas todos têm.

PLN: O 7ºBPM já abrangeu toda a região e atualmente restringe-se aos municípios de Lagarto e Riachão. Em sua avaliação, qual ou quais os principais problemas destes municípios?

MA: O tráfico e o roubo. Os homicídios que aqui aconteceram, resguardadas algumas exceções, todos foram disputa por tráfico. Então o tráfico fomenta o homicídio, fomenta o roubo, e o tráfico não é uma questão de polícia. Ele é uma questão de consciência, pois não adianta o juiz, o promotor ou o Major aqui baterem na mesa, se o filho deles cheira cocaína todo fim de semana. Então é um problema social que deve ser trabalhado desta forma. Trabalhar o tráfico como uma questão de crime apenas, nada vai acontecer.

Soluções maravilhosas: descriminalize! Dizem que se descriminalizar, o tráfico acabar, mas em nenhum lugar do mundo o tráfico acabou depois da descriminalização. E não adianta comparar a realidade de um país europeu com níveis sociais elevados com o Brasil, nós temos que ser comparados com o Paraguai, com a Argentina, porque são realidades mais próximas.

PLN: Em relação às parcerias, já houve um primeiro contato com o delegado da Polícia Civil e os membros da Guarda Municipal?

MA: Já conversei com o delegado; tive a felicidade de conhecer os guardas municipais de Lagarto na Acadepol, quando eles fizeram o curso lá, sou amigos deles e estou retornando da Delegacia de Simão Dias, onde todos são meus amigos. Então é em cima dessas parcerias que a gente vai tentar amenizar a situação aqui, porque recursos ninguém tem. Problemas todos temos e teremos, as com a nossa interação e a consequente somação é o que fará a coisa melhorar, porque individualmente a gente não vai conseguir nada.

PLN: Há também a questão dos postos de policiamento comunitário, que o senhor já falou da necessidade da reabertura.

MA: Tem o posto do povoado Brasília, que está há quase um ano fechado. Realmente é uma perda muito grande, então nós iremos correr atrás para tentar reabri-lo. Mas não adianta reabrir o posto e não ter uma viatura para deixar a disposição dele… Se fosse reabrir hoje, teríamos que abrir trecho para arrumar uma meia sola, uma viatura para fazer um paliativo, mas tem de ser uma coisa de cada vez.

PLN: Como o senhor tem observado a situação de Riachão do Dantas? É um município que tem sofrido com assaltos e roubo a bancos.

MA: A situação de Riachão não é muito diferente da de Lagarto. A título de conhecimento, hoje [quinta-feira] a cidade de Riachão não está com viatura, pois ela está quebrada. E a que está quebrada não é de lá, pois a de lá quebrou semana passada e eu mandei essa como um paliativo, mas como as duas estão quebradas, a cidade está sem viatura.

PLN: Se houver uma ocorrência, o que faz?

MA: Não tem o que fazer. A sociedade civil e organizada, a justiça e os entes federados têm também que despertarem para o fato de que não adianta cobrar, pois se eles não chegarem junto e ajudar quem perde é a sociedade. Acredito que a função de todos os órgãos é o bem-estar social.

PLN: Que mensagem o senhor deixaria para a população?

MA: Que vontade e motivação não me faltam, mas eu espero o apoio da sociedade.

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O Xingó Parque Hotel & Resort está situado perto da usina hidrelétrica Xingó e dos famosos cânions do Velho Chico, a 77 km do Aeroporto Paulo Afonso. Tudo isso, às margens do Rio São Francisco no município sergipano de Canindé. 

 

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