DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (Sobre a vulnerabilidade)

24 de março de 2020 - 20:02, por Claudefranklin Monteiro

            Vulnerabilidade. Você já sentiu isso? Talvez não lembre, porque sua vida andava tão boa, tão ocupada de tantos afazeres, compromissos, agenda. Durante anos, tenho sido orientado por ela, a agenda. Não somente pela necessidade de ser responsável, cumprir com minhas obrigações, mas também de zelar para que o minimamente planejado seja executado.

            Ao término das minhas obrigações em meu trabalho e a proximidade do recesso, sou assaltado pela notícia do agravamento do novo coronavírus, que pôs o mundo em polvorosa. Não tem mais compromisso, nem agenda a cumprir, apenas ficar em casa, com minha esposa e nossos filhos. Quantas vezes, em situações normais, desejei muito isso! Mas não assim, sob o imperativo do medo que uma pandemia causa nas pessoas.

            Mas o assunto de hoje é vulnerabilidade. Torno a perguntar: você já sentiu isso? Certamente que sim, mas se esqueceu quando sua mãe te acalentou no peito, te pôs prá dormir, lhe convencendo, ternamente, que não existe bicho papão e nem o velho do saco. O esquecimento também veio em consequência da proteção de seu pai, que ofereceu seus ombros para atravessar o rio. Ou de seu irmão que se fez pai e lhe deu a oportunidade de ser alguém na vida. E depois que você se tornou, fez família e morada, não lembrou mais da vulnerabilidade, lembrada vez ou outra, notadamente diante da morte, na iminência de um procedimento cirúrgico ou do medo de avião.

            Estado de vulnerabilidade. Têm se falado muito nisso nas últimas semanas. Para os que têm mais chances de sofrer as ações do vírus letal, mas também para os custos econômicos que ele pode provocar. Um ser microscópico, nocivo e insignificante, diante do orgulho, da avareza, da riqueza e da prepotência de alguns. Um ser desprezível, que se não for contido poderá dizimar a muitos, sobretudo os mais vulneráveis.

            Mas há outros vulneráveis dos quais não estamos dando a devida atenção, porque estamos de quarenta, em casa, ocupando-nos com toda sorte de coisas para não surtar: mídias, redes sociais, livros, TV, rádio e toda uma série de meios que julgamos capazes de substituir ou minimizar a nossa tola mania de ser, ter e poder, sem propósito ou causa que o valha.

            Vulneráveis de toda sorte. De gente solitária, sem família ou sem a presença dela (por opção ou não). De gente largada no asilo, nos hospitais e sarjetas. De gente nos submundos da injusta geografia humana das cidades grandes, que sofrem com enchentes e deslizamentos, com o tráfico, a discriminação e a criminalidade. Gente do botequim que fechou e não oferece mais a última dose de esperança. De inúmeras mulheres e minorias à mercê da assistência pública e sem dignidade. De gente que precisa de remédios para controlar suas angústias e ansiedades, que fazem do medo o pior de seus pesadelos, às vezes costumeiros e diários. Gente inocente que fala do vírus como se fosse um vilão de desenho animado que os X-Men irão derrotar com a força do pensamento.

            O coronavírus já deixou um legado. Assim como a morte, vem nos lembrar que somos todos vulneráveis. Absolutamente todos. E que para além de nossas vicissitudes humanas, precisamos aprender com a vulnerabilidade a sermos mais humanos uns para com os outros.

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