DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (todo sábado é assim: saudade)

28 de março de 2020 - 21:21, por Claudefranklin Monteiro

Antes de escrever esta crônica, estava ouvindo uma canção de Lulu Santos, interpretada pelo grupo Cidade Negra, que começa assim: “Todo mundo espera alguma coisa /
De um sábado à noite”. A música fala também de esperanças e sonhos. Assim, é a expectativa que a move. Na contramão, outra canção que inspirou o assunto de hoje é interpretada pelo cantor José Augusto, que em parceria com Paulo Valle, escreveu Sábado.

O sábado já foi tema de várias canções, nacionais e internacionais, e talvez a mais conhecida, universalmente, foi Stayin’ Alive, de Maurice Ernest Gibb / Robin Hugh Gibb / Barry Alan Gibb, imortalizada pelo grupo Bee Gees no filme de Jon Travolta: Os embalos de sábado à noite (1977). Aliás, quem nunca deixou de imitá-lo naquela cena clássica de uma discoteca?

Apesar de naquela época eu ter apenas três anos de idade, curiosamente, essa canção me causa nostalgia e me faz bem. Ouvi-la me dá a sensação de que eu vivi aquele momento. Sinto saudade até do que não vivi! Sábado, de José Augusto e Paulo Valle, gira em torno da retrospectiva, daquilo que passou, de lembranças e da saudade, tema de nossa reflexão de hoje. Assim, eu gostaria de saber de você: do quê e de quem você tem saudade?

A saudade é uma saudação à idade. Em tese, só tem saudade quem viveu. Nesse sentido, saúdo, inicialmente e de modo especial, a todos aqueles da melhor idade, rogando a Deus que os proteja nesses tempos de coronavírus.

A saudade é um detonador de memórias, uma produção em série de lágrimas, mas também dos melhores sorrisos. A saudade é o combustível para a vida eterna, pois enquanto posso lembrar, tenho a certeza de que estou vivo. E como ainda estou vivo, saudemos, também, a todas as lembranças, a tudo aquilo que nos faz viver de novo. A saudade está no retrato, no contato, no abraço, no som, na música, no cheiro e no sabor. Está nas rugas, mas também está nas muitas dobras de um bebê.

Nos versos de Vinícius de Moraes, ela é causa de sofrimento pela ausência da mulher amada: “Chega de saudade, a realidade é que sem ela / Não há paz, não há beleza / É só tristeza e a melancolia / Que não sai de mim, não sai de mim, não sai”. Em Mário Quintana, a ausência da amada é inspiradora: “É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, / teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos…”

Eu tenho saudade da Ladeira do Rosário e do carrinho de rolimã sem freios. Da sorveteria Iara e da rabugice de seu dono (mas, ele era gente boa). Dos doces de Dona Sidônia. Do bolachão da Bodeca de Seu Raimundo e do pão de Seu Pedro. Das muitas conversas com e de Dona Claudemira, minha mãe, e do terço apressado de Dona Laura Vieira, do Pé da Seera do Qui. Saudade do cheiro de sarro de meu pai e da sinuca de seu bar. De Seu Nozinho da Casa Oriente, do Natal e dos brinquedos da Estrela. Bendita a oportunidade de ter ainda meu Playmobil na minha prateleira! Saudade das caminhadas no Campo Grande com minha amada, do Hotel Bahia do Sol e da cerveja do Macal, em Salvador. De saudades longínquas e fugidias. E das saudades de há poucos dias.

A saudade a que estou me referindo é motivo de alegria, ainda que em seu cardápio as lágrimas venham como molho ou como bálsamo do coração e da mente. Quem tem saudade assim, desse jeito, vive outra vez e vive mais. Recobra a vontade de viver, pois ainda precisamos construir novas saudades e ser causa de saudade para alguém. Agora é a hora de saudar os saudosistas, como eu. E como hoje é sábado: brindemos!

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O Xingó Parque Hotel & Resort está situado perto da usina hidrelétrica Xingó e dos famosos cânions do Velho Chico, a 77 km do Aeroporto Paulo Afonso. Tudo isso, às margens do Rio São Francisco no município sergipano de Canindé. 

 

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