DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (Equilíbrio Distante)

31 de março de 2020 - 20:46, por Claudefranklin Monteiro

Dia 5 de julho de 1982, foi a primeira vez que chorei por causa de uma partida de futebol. Foi um ano difícil prá mim. Em janeiro, meu pai havia morrido e aquilo me deixou sem chão. Eu convivia muito com ele, era companhia para todos os momentos e não saia de seu Bar e Mercearia São José, entre as ruas Senhor do Bonfim e Mizael Vieira, em Lagarto. Eu me tornei fã de futebol e do Clube de Regatas Vasco da Gama.

Naquela tarde tristonha de 5 de julho de 1982, numa partida magistral e inusitada, a Seleção Brasileira de Futebol, a melhor depois da Tricampeã de 1970, perdia para a Itália e era eliminada da Copa do Mundo, no Estádio Sarrià, em Barcelona, na Espanha, com três gols de Paolo Rossi. Chorei muito e precisei ser consolado por minha mãe.

Doze anos depois, meu pai foi vingado pela Seleção de 1994, comandada pela genial dupla Bebeto e Romário. Quando Baggio, da Seleção Italiana, desperdiçou uma cobrança de pênalti, o Brasil, enfim, se sagrava Tetracampeã de Futebol, em cima da Itália. O choro agora era de alegria e, num misto de saudade, olhava para o céu e dizia: essa é prá você, meu Pai.

Apesar dessa peleja futebolística, sempre fui admirador do povo italiano. Sua história é fascinante, particularmente de como é capaz de sempre dar a volta por cima. Nós, lagartenses, temos uma relação boa com a cultura italiana, pois, por muitos anos, tivemos como pároco da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, um italiano de Castelmassa, o bispo emérito de Propriá, Dom Mário Rino Sivieri, atualmente morando na Fazenda São Miguel, em Lagarto.

Minha homenagem de hoje é para eles: os italianos. Povo que vem sofrendo com a COVID-19 e tem perdido muitos de seus entes queridos, principalmente da terceira idade. A inspiração de nosso assunto de hoje foi o CD de Renato Russo, Equilíbrio Distante (1995).  E também o livro de João Fábio Bertonha, Os Italianos (2005).

Renato Russo, num surto de criatividade e sensibilidade que lhe era peculiar, ascendente de italianos, em seu segundo disco solo, apresentou à gravadora EMI um projeto que queria fazer uma ode à música italiana. Equilíbrio Distante é lindo em todos os sentidos: da escolha do repertório ao seu layout. Há canções belíssimas interpretadas de forma angelical e serena, e também forte e intensa, pelo vocalista da Banda Legião Urbana.

Entre as canções de Equilíbrio Distante, destaco uma, em especial: Passerà. De autoria de Aleandro Baldi / Bigazzi / M. Falagiani, fala de esperança, da certeza de que tudo é passageiro e que até da dor iremos um dia nos livrarmos: Passerà primo o poi / Questo piccolo dolore che c’è in te / Che c’è in me, che c’è in noi (Passará cedo ou tarde / Esta pequena dor que existe em ti / Que existe em mim, que existe em nós).

                Em Os Italianos, de João Fábio Bertonha, uma síntese precisa da trajetória desse povo, da Antiguidade Clássica aos anos 90 do século XX, destacando a arte, a culinária e a cultura, dos quais, nós os brasileiros somos herdeiros e signatários identitários, sobretudo em regiões como o Estado de São Paulo. Apesar da experiência malsucedida do fascismo, que arrastou à Itália para uma tragédia humana de guerra, os italianos, afirma Bertonha, devem ser avaliados por sua cultura e por seu estilo de vida.

            Num Brasil marcado por desequilíbrios de toda ordem, das políticas públicas, governantes às condições socioeconômicas, precisamos muito nos espelhar na cultura italiana, em sua capacidade de se manterem eternos, como eterna é Roma e na alegria de seu povo, apesar dos infortúnios históricos que insistem, sem sucesso, em abater esse povo de dolce vita.

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