DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (O Grande Encontro)

8 de abril de 2020 - 21:16, por Claudefranklin Monteiro

Até a altura do final de minha adolescência, a Semana Santa era um momento para eu estar mais perto das providências para a realização dos atos que vão da quarta-feira até o domingo. Vivia às voltas com meu tio materno, Antônio Carlos dos Santos, o Tonho de Sinhô. Ele era sacristão do Santuário de Nossa Senhora da Piedade. Nesses tempos, eu o acompanhava para arrumar os andores, ornamentar os altares, cuidar de todos os detalhes que hoje é responsabilidade de uma equipe. Estorvado, mas muito carinhoso, Tio Tonho me chamava para ajudá-lo. Que alegria era viver daquilo tudo!

Entre todas as imagens, a que mais me chamava a atenção era a de Nossa Senhora das Dores. Seu vestido azul escuro, quase roxo, variando, de tempos em tempos, para vinho. Uma gentileza dos pais do Prof. Rusel Barroso, Aidê e Dida (que cultivam por anos a veneração pela imagem); seu resplendor de doze estrelas douradas, a espada traspassada no peito, o lenço branco caindo sobre às mãos postas, o semblante sofrido e uma lágrima a correr pelo rosto. Estar diante daquela imagem, era como estar diante de Maria, frente à perfeição do entalhe e à delicadeza da escultura.

Essa imagem e a do Senhor dos Passos costumavam ser utilizadas até o ano passado na tradicional Procissão do Encontro. Este ano não, pelas razões que já conhecemos em torno do combate sobre o avanço da COVID-19. Naquele aspecto da piedade popular, que foi transplantado para Lagarto e se transformou num momento especial da quarta-feira da Semana Santa, à noite, os homens saíam com a imagem do Senhor dos Passos da Igreja do Rosário e as mulheres, do Santuário Nossa Senhora da Piedade, comumente se encontrando na Praça Filomeno Hora. Na ocasião, o sacerdote faz uma breve reflexão e segue a procissão até o Santuário, com a celebração da Missa.

Mesmo adulto e trabalhando fora de Lagarto, não lembro de ter deixado de viver aquele acontecimento. Aquele que, pra mim, foi um dos maiores encontros da história da humanidade. Um grande encontro, marcado por inúmeros significados e revestido de memória, dor, afeto, consolo, misericórdia e porque não dizer, de esperança. O filho de Deus, entregue como sacrifício e expiação dos pecados da humanidade, sem ter cometido crime algum, sob o peso da cruz se vê diante de sua Mãe, completamente desolada.

Essa cena já foi inúmeras vezes representada no teatro, na música, na literatura e principalmente no cinema. Ontem, fiz questão de assistir novamente o filme Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson. Para além da beleza e da ternura do filme de Franco Zeffirelli, Jesus de Nazaré (1977), Paixão de Cristo consegue dar conta de uma das maiores narrativas de fé e sofrimento da história que já se viu e se contou.

No que diz respeito ao tema de hoje, em Paixão de Cristo, de Mel Gibson, é possível vislumbrar inúmeros encontros de Jesus com Maria, sua mãe. Não só no ápice, na Via Crucis, mas antes e durante seu julgamento e condenação, e, principalmente como está em João 19, 25-27: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe”.

Encontros em que entre eles somente os olhos e a expressão do rosto de ambos falavam, diziam inúmeras coisas. Esta, a meu ver, é a maior lição do grande encontro: deixar o silêncio do amor falar. Deixar que nossos olhos digam mais do que palavras e revelem os verdadeiros sentimentos. O silêncio daqueles encontros se traduz em único momento, cujo corolário foi o colo de Maria. Particularmente, meu sonho de céu, o lugar que eu quero estar um dia e poder me encontrar e sentir o carinho da Virgem Mãe em meus cabelos, num cafuné divino, a me livrar de todo o peso da existência humana. Como nos diz a bela canção de Diego Fernandes (2016): “No colo de Maria, eu posso descansar… Mãe que cuida e que me ensina a caminhar…”

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