DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (Judas)

11 de abril de 2020 - 21:07, por Claudefranklin Monteiro

É de longa data a notícia sobre a traição na história da humanidade. Aliás, ela, infelizmente faz parte da natureza humana desde de sua origem. Ela revela a nossa fraqueza e o quanto ainda precisamos melhorar enquanto espécie. Revela também que, via de regra, agimos por impulsos e por interesses. Na raiz das traições estão, pelo menos, dois movimentos: a imposição do nosso egoísmo; e a falta de solidez de nossos valores. Traímos porque não amamos suficiente e porque não temos devidamente consolidados os sentimentos que precisam prevalecer sempre: o altruísmo e a compaixão.

Nesse sentido: Adão e Eva traíram Deus; Caim traiu e matou Abel, seu irmão; Dalila traiu Sansão; Brutus traiu César, em 44 a.C., provocando seu bárbado assassinato no Senado Romano; Domingos Fernandes Calabar traiu Pernambuco, em 1632, passando para o lado do holandeses; Tiradentes foi traído por Joaquim Silvério dos Reis, em 1789; foi a traição que permitiu à volante saber o esconderijo de Lampião, assassinado em 1938; Hitler traiu Stálin, em 1941, provocando um reviravolta na história da Segunda Guerra Mundial.

Na música popular brasileira, o traidor é representado, também, pela figura do cagueta ou cabueta, no popular, aquele que dedura e denuncia as pessoas. O cantor Bezerra da Silva (carioca, 1927-2005) foi quem melhor traduziu isso em seu repertório. O clássico Defunto Caguete (1984) retrata bem essa coisa da traição e da índole do traidor: “Caguete é mesmo um tremendo canalha / Nem morto não dá sossego / Chegou no inferno, entregou o diabo / E lá no céu caguetou São Pedro”. Sobre Judas, Bezerra da Silva afirma na canção Não é conselho (1992): “Foi da boca do branco / Que saiu o beijo traidor / Em seguida mandou pra cruz / JC, o nosso salvador”.

Um dos casos mais emblemáticos de traição e caguentagem foi, certamente, o de Judas Escariotes. A traição que fez a Jesus lhe custou, ao longo do tempo, inúmeras pejas e até distorções históricas e interpretativas. Para o Dr. Remy Bijaqui (Revista História Viva, 2003): “Judas é, desde sempre, a encarnação do traidor. Aquele que entregou seu mestre por uns trocados” (p. 61). A cena do beijo como senha para a traição também prefigura a falsidade daqueles tempos e dos nossos dias.

Considerando ter sido um dos doze escolhidos, de ter vivido com o Messias, ter visto seus milagres pessoalmente, ter tido momentos de conversa e partilha íntima com Jesus e a quem lhe confiaram a parte financeira do grupo, o que realmente motivou a traição de Judas?

Muitas são as versões nesse sentido. Recentemente, em leitura que fiz de um trabalho do Padre Mateo Bautista, chamou a minha atenção a sua análise como tendo sido “o homem que quis negociar com Deus e não se deixou se transformar por Deus (2008, p. 25). Para além das inclinações diabólicas, ressaltadas nos Evangelhos, Judas era um sujeito de índole fraca e duvidosa, vacilante, mas cria no Cristo. Seu erro foi a presunção e isso lhe custou ser colocado como pivô de uma ardilosa manobra das autoridades religiosas de sua época, que, a meu ver, com ou sem a traição, iriam acabar matando Jesus de qualquer jeito: “Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça toda a nação” (Jo 11,50).

Há, na cultura popular brasileira, uma tradição antiga de malhar o Judas no sábado à noite. Um boneco de pano ou palha é colocado sobre algum lugar alto, representado enforcado, que leva pauladas e depois é queimado, para delírio das pessoas. Um sentimento de vingança, nada cristão, ou uma brincadeira sem maiores consequências ou maldade? Ou ainda, uma oportuna forma de manifestar algum tipo de indignação política. Qual seria o Judas da vez?

Mais do que malhar o Judas, faz-se necessário, em nosso tempo, no tempo em que estamos vivendo de distanciamento social, utilizarmo-nos da força das redes sociais para malhar a incompetência de algumas de nossas autoridades e sua falta de responsabilidade para com a vida humana. Malhar a indiferença para com os mais necessitados. Malhar toda sorte (para não dizer azar) de traições aos ideais democráticos e aos ensinamentos daquele que, segundo Mateu Bautista, à propósito de Jesus, foi: “(…) morto por nós e ressuscitado para nós”.

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