DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (Moraes Moreira)

13 de abril de 2020 - 20:44, por Claudefranklin Monteiro

No final da manhã de hoje, fui pego de surpresa com a notícia do falecimento do cantor Moraes Moreira. Eu estava absorto e focado na escrita do livro dos 150 anos da Paróquia de Senhora Santana, em Boquim, em parceria com Ana Medina, quando recebi uma ligação do confrade Alessandro Monteiro (Kiko Monteiro), da Academia Lagartense de Letras, me dando conta da notícia que me deixou surpreso e triste.

Para nós que somos fãs do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar, a morte de Moraes Moreira, aos 72 anos, vem exatamente no contexto das comemorações do Jubileu de Vinho da invenção do trio elétrico, em 1950, pela dupla Dodô e Osmar, que o acolheu em 1974 na família, por ocasião de sua saída do grupo Novos Baianos, onde fez muito história.

Desde o final de novembro de 2016, que venho me debruçando sobre essa pesquisa, mais de perto com os filhos de Osmar, sobretudo de Aroldo Macêdo, que faz questão de dizer que Moraes era o quinto irmão deles. Aroldo, Armandinho, André e Betinho, os filhos da alegria, os Irmãos Macêdo, que deram continuidade ao projeto do trio em 1974, quando criaram o Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar. Moraes Moreira foi seu vocalista e principal letrista e musicista do grupo, mesmo em carreira solo. Aliás, foi o primeiro cantor de trio elétrico que se tem notícia, do qual se orgulhava muito em dizer.

Eu tive a felicidade de conhecer Moraes o ano passado, no dia 17 de janeiro, em show inesquecível que fez no Teatro Atheneu. Ao término do espetáculo, ele nos recebeu para autógrafos e fotos. Ao me vê com a camisa personalizada com uma réplica do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar, de 1975, ele reagiu positivamente e abriu um largo e feliz sorriso. Ao me apresentar, ele disse que havia recebido meu e-mail para falar com ele sobre o assunto, mas por ter chegado tarde em Aracaju e ter ido direto para uma entrevista numa emissora de rádio, e descansar um pouco, não teve como me receber. Porém, naquela noite, em pouco menos de cinco minutos, me estimulou em minha pesquisa e apontou algumas orientações importantes, além das que constam de seu livro Sonhos Elétricos, de 2010.

Hoje, eu não poderia, em hipótese alguma, ficar sem poder tecer alguma coisa a seu respeito e fazer memória a esse que foi um dos maiores nomes da música popular brasileira, que surgiu num contexto de necessidade de reinvenção e de novas formas de manifestação da liberdade criativa, tão tolhida naqueles anos 60, 70 e 80.

Moraes Moreira nos últimos anos vinha se dedicando à literatura de cordel, era, inclusive, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Na madrugada de 17 de março de 2020, chegou a postar em uma rede social um verso que havia feito em torno desse momento que estamos vivendo: Eu temo o coronavírus / E zelo por minha vida / Mas tenho medo de tiros / Também de bala perdida / A nossa fé é a vacina / O professor que me ensina / É a minha própria lida.

Entre suas canções, destaco duas de minha predileção: Pombo Correio (1977), que ele colocou letra para a canção Doble Morse, de Dodô e Osmar, dos anos 50. Um grande sucesso nacional e que embalou o carnaval de 1978, não só na Bahia, mas em todo o país. E uma outra, cujo trecho se encontra na contracapa de meu último livro A Vida é um Trio Elétrico (2019). Refiro-me à canção Cantor do Trio, que ele divide com Aroldo Mâcedo: “Boca de alto-falante / Para animar a cidade / Embala os delirantes / Sonhos da Mocidade / Pouco é o alto-falante / Para animar o país / Muito mais interessante / É aquilo que o povo diz”.

Em que pese ter feito carreira solo, uma extraordinária e sólida carreira, com músicas e baladas românticas e poéticas de enorme sucesso, como Acabou Chorare (1972) e Sintonia (1993), até mesmo músicas infantis em especiais da Rede Globo, como A Arca de Noé e Pirlimpimpim, eu sempre guardarei a lembrança de Moraes Moreira como um cantor de trio. Alguém que deu vida e voz à guitarra baiana e a eternizou para todo o sempre.

Saravá, Moraes!

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