DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (LET IT BE)

8 de maio de 2020 - 21:04, por Claudefranklin Monteiro

Eu tinha 12 anos e frequentava muito a casa de minha irmã mais velha, Claudineide. Ela, professora, e o marido, Antônio, funcionário da construção civil, me deixavam eu ficar por lá, enquanto trabalhavam ou viajavam. Geralmente, assistia filmes no videocassete ou ouvia música num aparelho de som que eles tinham. Numa dessas ocasiões, fui fuçar o repertório discográfico deles e me deparei com um LP branco, com quatro jovens formando uma palavra com o posicionamento de seus braços e pernas.

Sem me dar conta da importância do achado, estava diante de um dos LPs da maior banda de rock in roll de todos os tempos. A capa a que me referia era do álbum HELP (1965), dos Beatles. Fiquei alguns minutos apreciando o material, verso e anverso, e também as informações contidas no vinil (lado A e lado B). Tinha um inglês bem ginasial, mas como curioso que sempre fui, pude compreender e traduzir algumas coisas, a exemplo do título do disco: Socorro!

Foi amor à primeira vista e à primeira audiência. Não resisti e me pus a ouvir aquela preciosidade. Ouvi mais de uma vez e tomei a liberdade de levar pra casa e voltar a curtir no som Polyvox, de que já lhes falei. O LP me causou fascínio e foi importante para meu amadurecimento cultural e musical. Não tardou para ser mais um beatlemaníaco. E o mais curioso era que a banda não existia mais. Que de seus quatro componentes, John Lennon havia sido assassinado em 1980 e os outros três ainda estavam vivos, fazendo carreiras solos, com Paul MaCartney mais em evidência.

Fui correndo mostrar a novidade pra meu amigo Vicente Celestino, que em princípio não teve empatia, mas logo se juntou ao time. Eram tempos difíceis, pois não havia acesso à internet, nem tão pouco Spotify. Tivemos muita dificuldade para nos alimentar de informações, adquirir LP, depois CDs e VHS. Vicente nos inscreveu num fã clube de São Paulo, chamado Cavern Club, de onde recebíamos encartes informativos e encomendávamos por telefone ou Correios, cópias de filmes. Tenho até hoje a cópia do filme Help em VHS, que depois fiz uma versão em DVD.

Os demais da turma, Sandro, Marcone, Hélio, Davi, Marcelo, Max, Sérgio (o forte), entre outros que iam se chegando, não curtiam muito os Beatles. Só eu e Vicente. Lembro que Sandro Mesquita curtia e colecionava LPs de Lulu Santos. O restante curtia Pet Shop Boys, R.E.M., Madona, Legião Urbana, Paralamas, Titãs.

Lembro de ter feito uma fita cassete para minha namorada (hoje esposa), só com as canções dos Beatles que eu ouvia pensando nela. Ela não se tornou fã, mas apreciava algumas canções, sobretudo as baladas mais leves, como Yesterday e Hey Jude. O cantor Biafra traduz bem a minha relação entre mim e Patrícia e a beatlemania, sobretudo num trecho da música Rua Ramalhete (Ney Azambuja / Tavito – 1979): “Muito prazer, vamos dançar / Que eu vou falar no seu ouvido
Coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido / Vamos deixar tudo rolar / E o som dos Beatles na vitrola”.

Com o passar dos anos, meu apreço pela banda só aumentava. E com a melhoria do poder aquisitivo e do desenvolvimento da tecnologia, fui construindo um acervo considerável, do qual tenho muito orgulho. De bóton, presente do Promotor Público, Dr. Deijaniro Jonas Filho, made in Liverpool, até um quebra-cabeça de duas mil peças, com todas as capas dos discos, que decora nossa sala de TV.

No dia 29 de novembro de 2001, numa das visitas que fazia a minha mãe, o Jornal Nacional dava conta da morte de George Harrison, vítima de câncer de pulmão. Chorei como se fosse uma pessoa próxima de minha família e lembro de ter publicado uma crônica intitulada Lá Vai o Sol, em sua homenagem.

Todo fã alimenta o desejo de vê o artista de perto. Tirar uma foto e apreciar sua arte ao vivo. Eu tive essa felicidade em novembro de 2011, no Chevrolet Hall, em Recife, ao lado de minha esposa, Patrícia Monteiro, e do amigo Vicente Celestino. No ano seguinte, em abril, também em Recife, dessa vez no Estádio do Arruda lotado, curtimos o show de Paul MacCartney.

Todo pai sonha que seu filho seja feliz e que torça para seu time de futebol. Pedro Franklin não criou gosto pelo futebol e não se tornou torcedor do Vasco da Gama. Mas, para minha alegria, na mesma idade que eu (na verdade, um ano a menos), criou gosto pela musicalidade beatlemaníaca e juntos curtimos a banda. Ele, muito perspicaz, e com uma condição melhor do que a minha na adolescência, passou a ter um acesso mais fácil e privilegiado do que eu, conhecendo mais profundamente a banda.

O êxtase dessa história de fã dos Beatles se deu em Salvador, no dia 21 de outubro de 2017, ocasião em que eu, Pedro Franklin, sua mãe e Brennda (prima de minha esposa) assistimos na Fonte Nova mais um show da turnê de Paul MacCartney no Brasil. Para mim e para Patrícia era a segunda vez, mas para Brenda e Pedro Franklin era a primeira. Abraçar meu filho naquele momento foi uma sensação indescritível. Além de passar um filme na cabeça, a alegria de poder viver aquilo com meu filho, tão fã ou mais dos Beatles do que eu.

Hoje, o último álbum da Banda The Beatles está completando 50 anos. Gravado ao longo do ano de 1969, LET IT BE foi lançado oficialmente no dia 8 de maio de 1970. É o meu LP predileto e isso se deve em grande medida à canção tema do disco, tão apropriada para esses tempos de distanciamento social em função da pandemia do COVID-19. Mas também ao que podemos dizer ao que teria sido o último show da banda, na apresentação polêmica de improviso no telhado dos estúdios da Apple, registrado em documentário e também no álbum.

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