DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (LAURA VIEIRA)

15 de maio de 2020 - 10:49, por Claudefranklin Monteiro

A casa de quatro águas ficava no meio de um terreno que cobria a parte final esquerda da Rua Mizael Vieira e defronte para um vão (hoje uma pracinha), com casas simples que compunham uma região da cidade (hoje bairro), chamado Pacheco. Foi ali que vivi parte de minha adolescência, para ser mais preciso entre os anos 1985, quando retornei de férias de Fortaleza, e 1991, quando precisei me dedicar aos estudos na Universidade Federal de Sergipe.

Foram aproximadamente seis anos de muita diversão, aprendizagens e descobertas. Entre os sonhos mais recorrentes que tenho, envolve o fato de estar sentado num dos batentes daquela casa, a ficar à espreita dos movimentos de Patrícia, que morava em frente, no número 388. Eu e ela, naquela casa, nos encontrávamos eventualmente, com Gabriela (sua irmã à tiracolo), para conversar demoradamente sobre tudo que vivíamos naquele tempo. Logo percebi, que não era da sua amiga que iria me apaixonar por toda a vida, mas por aquela menina-mulher, cuja presença me fazia e faz muito bem até hoje. De confidente à esposa, uma história que no último mês de fevereiro fez 35 anos. Observação: eu tinha 11 anos e ela 10. Ambos de março: eu do dia 6 e ela do dia 11.

O ambiente que eu frequentei por quase seis anos não era pomposo. A comunidade era simples e de baixa renda. A casa era grande, mas bastante humilde, com algumas limitações estruturais. Mas, havia dignidade e felicidade. Moravam ali, pelo menos duas a três famílias, uma penca de crianças e pré-adolescentes dos quais eu era amigo de todos. Eu não era abastado, mas me viam dessa forma, embora nunca os tivesse constrangido por isso. Eu convivia mais com eles do que em casa. Era uma rota diária e certa a minha naqueles tempos, entre a Travessa Municipal e a Rua Mizael Vieira.

Na área com areia e mato, improvisávamos campinhos de futebol. Aliás, jogávamos sempre e em razão disso, meu futuro sogro achava que não era bom partido para Patrícia. Na concepção dele eu era “um molequinho com a bola de baixo do braço”. Foram inúmeras as pelejas de futebol, com direito a cortar os pés, torcer os tornozelos, machucar as unhas e a hematomas, muitos hematomas, uma vez que alguns de nossos peladeiros eram mais dados a acerta-nos do que à bola. Não havia limite para a faixa etária, os times eram compostos por pessoas de todas as idades. Chegava em casa estrupiado e mamãe me perguntava se havia voltado de uma guerra.

Eu não tinha muito talento como o restante para o futebol. Minhas qualidades eram cruzamento e um chute muito forte e preciso. Os amigos de papai diziam para mim que havia herdado dele essa última habilidade, com a diferença que ele era canhoto. Lembro-me, em detalhes, da Copa do Mundo de 1986, no México. Eu colecionei um álbum de figurinhas e a gente brincava de bafo ou trocava entre nós os cromos repetidos. Conservo-o até hoje. Infelizmente em 2006, tive que interromper as peladas, em razão de um rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, cuja cirurgia adiei por anos e da qual ainda me recupero. Se vou voltar a jogar? Acredito que é melhor ficar com as lembranças, pois já está de bom tamanho andar.

Foi naquela casa que eu firmei a minha iniciação religiosa católica, cujos primeiros passos foram estimulados por Tio Tonho e por Padinho Cláudio. Impossível não rezar o terço hoje e não me lembrar com carinho e gratidão da sua proprietária: Dona Laura Vieira. Natural do interior de Lagarto, ela foi professora por muitos anos no Pé da Serra do Qui, até se mudar para o centro da cidade, onde passou a se dedicar às demandas da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, sobretudo da catequese.

Teve um final de vida dramático, Dona Laura Vieira, mas nunca se lhe abateu o ânimo. Baixinha, usava óculos preto e tinha sempre o cabelo amarrado. Era prestativa com os vizinhos e muito acolhedora. Eu a tinha como avó e ela me considerava como filho e neto (fez questão de ressaltar isso numa carta que deixou para ser lida em seu velório). Tínhamos uma grande afinidade e ficava horas ouvindo suas histórias e ensinamentos. Ela foi responsável direto por aquilo que cultivo de bom em minha vida, coisas como respeitar os mais velhos, os pais e às pessoas, sem fazer acepção delas.

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