DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (PELEJAS)

17 de maio de 2020 - 11:36, por Claudefranklin Monteiro

O jogo daquele dia foi bastante contestado. Até a imprensa da capital falava sobre o assunto, mas a maioria se rendia à “vitória” do clube de maior prestígio e torcida. Eu era muito menino e ouvia isso dos adultos na volta para Lagarto. A revolta era geral dentro do carro, pois o Sergipe ganhou o jogo com uma bola que entrou pelo lado de fora da trave, por uma fissura na rede. Não vou precisar exatamente qual foi o jogo e o dia, mas ocorreu no Batistão, em Aracaju. Foi a primeira vez que estive num estádio de futebol e percebi, logo cedo, o quanto seria difícil torcer.

O tempo passou, o Lagarto sofreu alterações estatutárias e estruturais, mas nunca saia do velho amadorismo que não lhe permitia alçar voos maiores no Campeonato Sergipano. Na maioria das vezes, um quase angustiante e desanimador. Bons times, porém, não o suficiente para fazer frente aos clubes da capital e o para o Itabaiana, por exemplo. Até que em 1998, resolveram mudar tudo e investir como nunca no futebol de nossa cidade, trabalho coroado com a conquista daquele ano: primeira vez e única até a presente data.

O time havia mudado de nome. Agora era o Atlético Clube Lagartense, fundado, com esse nome, no dia 11 de agosto de 1992. Caiu no gosto popular e os jogos eram lotados. Uma campanha robusta com 13 vitórias, 4 empates e apenas três derrotas. Dessa vez, não teve juiz para favorecer e até a imprensa teve que se render. O jogo era decidido em campo e não foi nada fácil fora dele, não fosse a administração daquela época.

O jogo decisivo aconteceu no dia 7 de junho de 1998, no Estádio Paulo Barreto. Embora já fosse casado, eu não tinha filhos ainda e vivia às voltas com meu sobrinho, Luan Henrique, filho de minha irmã Claudicleide. Nós dois nos espremíamos debaixo de um guarda-chuva, em meio a uma multidão de cerca de cinco mil pessoas. Chovia muito, mas isso não arrefeceu o ânimo da torcida que queria viver aquele momento histórico. O Lagartense venceu o Vasco Esporte Clube por 2 x 1, com gols de Osvaldo e de Marcelo Alves (uma obra de arte).

Luan Henrique até hoje é um filho para mim. Graduado em História, optou pela carreira no comércio, mas segue amando o futebol, muito mais do que eu, que fui perdendo um pouco do entusiasmo, principalmente depois dos rebaixamentos do Vasco da Gama e daquele 7 x 1 da Alemanha pra cima da Seleção Brasileira, na Copa de 2014. Eu e ele, depois daquele histórico jogo de 1998, tivemos a oportunidade de vivermos outras aventuras futebolística.  Destaco a seguir, duas em especial.

Em 2003, o Vasco da Gama, que havia perdido o mando de campo por três partidas, jogou com o Internacional pelo Campeonato Brasileiro daquele ano em Aracaju, o Batistão. O time gaúcho ganhou por um gol a zero. Mas Luan estava feliz, era a primeira vez que ele assistia ao vivo a um jogo de nosso time do coração e ainda chegamos bem perto do zagueiro Henrique, que registramos em foto impressa. Eu já havia experimentado a sensação, em Salvador, na antiga Fonte Nova, quando o timaço de Romário, Juninho, Euller, entre outros, empatou com o Bahia e sagrou-se mais tarde, campeão do ano 2000, pela Copa João Havelange.

Nove anos depois (dia 10 de junho de 2012), no Estádio Pituaçu, em Salvador, eu e Luan Henrique, dessa vez acompanhados por nossas esposas (Patrícia e Jéssica), tivemos a felicidade de testemunhar a belíssima vitória do Vasco sobre o Bahia, com gols de Juninho Pernambucano e de Diego Souza. Um grande time, que no ano anterior havia se sagrado campeão da Copa do Brasil e foi vice do Campeonato Brasileiro, e que vinha fazendo uma excelente campanha na Taça Libertadores, sendo eliminado nas quartas de final para o Corinthians. Ao entrar no Estádio, naquela tarde, enrolado com a camisa do Vasco na mão, Luan Henrique chorava copiosamente, tomado pela emoção.

Em 2012, o Vasco da Gama terminou o Brasileirão em quinto lugar. Naquele ano, no dia 21 de julho, eu tive a honra de conhecer o São Januário, no Rio de Janeiro, na partida contra o Santos de Neymar e Ganso (servindo a Seleção Olímpica naquele dia e ausência sentida), que vencemos com gols de Alecsandro e Douglas. Luan Henrique não estava comigo nessa ocasião (sigo lhe devendo). Eu estava acompanhado de minha esposa e de meu filho, Pedro Franklin, com cinco anos, que dormiu boa parte da partida, acordando no final para identificar Roberto Dinamite, nas sociais, onde estávamos, dando autógrafo e atendendo a todos com paciência e satisfação. O sorriso, a simplicidade e a simpatia do maior craque do Vasco de todos os tempos nos contagiaram. Foi um momento mágico, devidamente registrado para a posteridade.

A nossa saga de torcer pelo Lagartense e pelo Vasco seguem adiante. Ele, Luan Henrique, mais atento e esperançoso. A bem da verdade, podemos dizer que somos pés-quentes, mas a conjuntura dos últimos anos não vem favorecendo que a paixão pelo futebol continue viva e vibrante, pois tudo é política, política na pior acepção da palavra.

Avante, Luan! Que possamos ter dias melhores e que a alegria volte ao Paulo Barreto o mais breve possível. Um dos poucos alentos do povo lagartense, tão carente de diversão. Quanto ao Vasco, meu filho querido, nos acostumemos à sofrência antes que a nau afunde em definitivo, nos deixando órfãos de Dinamite, Romário, Edmundo, Juninho Pernambucano…

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