DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (A LIBIDO)

19 de maio de 2020 - 10:11, por Claudefranklin Monteiro

            A criação lá em casa não foi pautada por excessos de escrúpulos ou por falsos moralismos. No entanto, havia respeito e limites, ou estabelecidos pela formação católica ou mesmo pelo bom-senso. Nada de exageros.            A nossa convivência em casa não se pautou pelo medo de ir para o inferno ou coisa do tipo. Para além da punição, a educação e a orientação, cabendo a cada um, livremente, suas opções e suas escolhas.

            Nesse sentido, excetuando o pornô ou o erótico, não havia proibição para assistir programa de adultos com adultos por perto, a exemplo de novelas e de séries ou mesmo de programas mais dramáticos e sérios como os que eram apresentados por Flávio Cavalcanti. Entre eles, o apresentador levou ao ar um sujeito que engolia quase de tudo, o baiano Isaías Braga do Santos ou “o homem-avestruz”. Lembro de quando ele engoliu várias bolas de sinuca.

Foi assim que, em 1982, numa das reprises da telenovela Gabriela Cravo e Canela (1975), chamou a minha atenção a cena clássica da tv brasileira, quando a atriz Sônia Braga, interpretando Gabriela, subiu no telhado de vestido chita para resgatar uma pipa de um garotinho, para delírio dos habitantes de uma pacata cidade litorânea de Ilhéus-BA e dos telespectadores espalhados por todo o país.

            Curiosamente, em tempos de censura, o apelo erótico ou as mensagens sexuais subliminares tinham espaço até nos Trapalhões, por exemplo. Os programas do Chacrinha, nas propagandas de jornal, era apresentados como uma atração do tipo “censura livre”. Li isso, por esses dias, num jornal católico, A Cruzada, de 1969, só para ilustrar o ambiente. Era comum, o apresentador dar destaque as suas chacretes, com closes que deixariam qualquer pessoa politicamente correta hoje totalmente ruborizada. Em geral, elas encerravam e abriam os blocos comerciais, com o chavão “roda, roda. roda e avisa: um minuto de comercial; alô, alô, Terezinha, é um barato o Cassino do Chacrinha”.

            Na esteira do apelo erótico da TV e do cinema à época do regime militar brasileiro, recordo-me dos filmes que eram exibidos no antigo Cine Glória, em Lagarto. Havia um dia da semana para esse tipo de gênero cinematográfico, salvo engano às segundas-feiras. Era muito comum, os cartazes, com as partes mais íntimas cobertas por uma tarja preta, ficarem expostos na frente do cinema, despertando a curiosidade da molecada.

            Mas nada se comparava aos impactos causados pelas apresentações da cantora e dançarina Gretchen nos programas do Chacrinha, inicialmente na TV Bandeirantes e depois na TV Globo. O apresentador a anunciava com grande entusiasmo e ela interpretava dois dos clássicos de sua carreira: “Conga, conga, conga” e “Freak le boom boom”. O que seria um escândalo para nosso tempo, era quase natural naquele final de anos 70 e início dos anos 80.

            Na outra ponta da história, mas não tão distante, havia um movimento que ficou conhecido pela expressão “desbunde”, uma forma escrachada de contrariar o regime, geralmente presente entre artistas, jornalistas e intelectuais. É fato que havia reações também dos setores conservadores. Mas, via de regra, a cultura brasileira estava pautada pela produção que ora era patriota e moralista, ora era lasciva no cinema e nas artes e também em outras formas de entretenimento, a exemplo do humor.

Alguns dos estereótipos culturais no âmbito do apelo sexual foram gestados naquele contexto e seguiram ditando normas e comportamentos mesmo com a redemocratização, até o cenário se abrir para novas possibilidades, em grande medida, numa esteira para superar o machismo e a vulgarização do corpo feminino.

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