DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (PAULO MILHA)

20 de maio de 2020 - 11:46, por Claudefranklin Monteiro

Paulo Milha (Outubro de 2018)

Acabo de saber, consternado, do falecimento do produtor musical do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar, Paulo Milha. Essa crônica, além de um preito de gratidão é uma homenagem a um sujeito generoso e responsável direto pelo sucesso das apresentações do grupo (seja no trio ou no palco), trabalhando incansavelmente nos bastidores, com uma discrição e simplicidade ímpar. Paulo Milha foi mais uma vítima da COVID-19.

Próximo de completar 55 anos, Paulo César Ribeiro da Silva nasceu no dia 4 de junho de 1965. Era de Brotas, Salvador-BA. Seus pais eram de Jequié e foi criado por uma família de espanhóis, os Martines Barrero. Teve uma educação conservadora e chegou a estudar em colégio de padres. Concluiu os estudos de primeiro e segundo grau, normalmente, mas largou o vestibular em economia para se dedicar a sua paixão: a música. Paixão que nasceu aos cinco anos de idade, quando teve a oportunidade de subir no Trio Elétrico Saborosa, por meio de um de seus irmãos, Florisvaldo, que era percussionista do trio.

Na adolescência e início da fase adulta, aprendeu a tocar cavaquinho e bandolim, mas não chegou a seguir carreira artística. Entre 1980 e 1995, trabalhou no Bloco Amigos do Papagaio, responsável pelo que seria hoje a produção, quando foi para o Bloco Mordomia. Além de produtor de carnaval, exercia o ofício de assistente administrativo que desenvolveu na Secretaria de Estado da Fazenda e numa entidade italiana chamada AVIS, entre outras empresas, se especializando em banco de dados.

Em 1996, por intermédio de Luiz Caldas, foi apresentado para a família Macêdo por conta de sua expertise com a produção e também com a parte administrativa de trios elétricos e blocos. Naquele mesmo ano foi contratado por Aroldo Macêdo. Entre suas funções iniciais, ser responsável pelos contratos e depois foi se firmando na produção.

No dia 18 de janeiro de 2018, Paulo Milha me concedeu uma entrevista significativa para meu projeto. Na ocasião ele me falou de seu primeiro contato com o Trio Elétrico Armandinho Dodô e Osmar. Ele chorou copiosamente quando me falou de suas memórias com Osmar Macêdo e disse da emoção e de sua honra em fazer parte da história do grupo.

Em outubro daquele ano, nos encontramos novamente. A pedido de Aroldo Macêdo, eu e Paulo Milha estivemos na sede do IPHAN em Salvador, reunidos com o Sr. Édson Miranda, quando discutimos a possibilidade de patrimonialização da música trieletrizada. Naquela ocasião, firmamos uma amizade que vinha sendo construída naturalmente desde fevereiro de 2017, quando o vi pela primeira vez, por ocasião do carnaval daquele ano.

Paulo Milha vinha sendo fundamental para minha pesquisa sobre o Trio Elétrico Armadinho, Dodô e Osmar. Sempre solícito, seja pessoalmente, seja por telefone, não media esforços para me ajudar na coleta de fontes sobre o grupo, juntamente com o músico e designer Morotó Slim . Na Terra do Som, em Salvador, escritório e estúdio da banda, me apontava caminhos e me dava valiosos conselhos. De boa prosa, conversávamos demoradamente sobre o trio e sobre a conjuntura política do país, normalmente regado a cafezinho.

No Carnaval de 2020, não tivemos como nos encontrar. Houve um contratempo com seu carro, quando saía do Canela para a Barra, mas nos falamos por telefone e enfim ele conseguiu resolver uma demanda minha de ordem pessoal. Depois disso, nossa comunicação se dava por Whatzapp, principalmente por conta da quarentena. Além de me munir de informações e tirar dúvidas sobre alguns pontos da minha escrita do livro comemorativo dos 70 anos do trio, compartilhava comigo, geralmente à noite ou de madrugada alguns hits internacionais, sucessos dos anos 80 e 90.

Nosso último contato, ocorreu há exato um mês, dia 20 de abril. Quando me tirou uma dúvida sobre a composição da canção É o Trio, de autoria de Aroldo Macêdo e Fernando Barbosa. Que não constava na discografia do grupo, porque tinha sido composta para o carnaval de 2015. Em 2019, me deu a honra de escrever para as abas de meu livro A Vida é um Trio Elétrico, do qual destaco o seguinte trecho: “É com todo esse amor, conhecimento e respeito pela história, particularmente a que se refere à música trieletrizada dos Irmãos Macêdo, que o considero hoje uma das pessoas com seriedade e bagagem para discorrer sobre tal assunto”.

Meu amigo Paulo Milha! Que Dodô e Osmar lhe recebam com a alegria no céu. Minha eterna admiração e gratidão.

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