DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (CHIARO E MADA)

22 de maio de 2020 - 11:21, por Claudefranklin Monteiro

            Início dos anos 90, Capela de São José (Praça do Gome), Lagarto. Cheguei ali por volta das 19h. Após a Missa, haveria uma palestra que teria um grande significado para a minha formação, sobretudo no campo da religiosidade. Eu estava curioso, dado que não seria um padre quem iria proferir, mas um leigo, alguém que eu conhecia, mas no campo das artes plásticas e julgava até que não fosse dado às coisas ligadas ao sagrado.

            Sua esposa, Joselma Vieira, à época lecionava no Colégio Laudelino Freire. Foi minha professora de geografia por um tempo. Ele, o palestrante, era Evilázio Vieira, consagrado nome da cultura lagartense, exímio criador de telas de altíssima qualidade, numa leva de outros grandes nomes das artes plásticas lagartenses, a exemplo de Adigenal Bezerra, Lourival Santos, José Carlos Carvalho, José Fernandes e Leustênisson.

            A palestra me foi recomendada por meu irmão mais velho, Cláudio Monteiro. Ele disse que iria me fazer bem, sobretudo porque estava com inclinações para a vida religiosa ou mesmo para o sacerdócio. A primeira impressão foi extremamente positiva e perdurou daquele momento em diante. Evilázio olhou para mim e senti como se ele tivesse ido mais fundo, alcançando meu coração.

            Depois da palestra, fui ao seu encontro, conforme as orientações de meu irmão e o palestrante prontamente me atendeu e naquela mesma noite e me dedicou valiosas horas de atenção. A conversa aconteceu num lugar inusitado: num dos bancos da rodoviária municipal, pois no caminho (fomos conversando a pé) uma chuva forte nos tomou de assalto.

            Na conversa que tivemos, franca e profunda como foi o tom da palestra, senti um tipo de espiritualidade que até então não havia experimentado. A sensação era de leveza e de paz. Chamou a atenção de Evilázio, desde a palestra, o fato de eu prestar atenção, de estar atento ao que ele proferia. Lembro que ele ressaltou que isso era muito raro para jovens de minha idade e que era uma qualidade nata em mim e que eu a aperfeiçoasse, dado que escutar mais do que falar é típico de quem tem sede de sabedoria.

            Evilázio e Joselma largaram tudo para seguir o ideal do Movimento Focolare. Se entregaram sem reservas e de quatro filhos passaram a ter vários outros, ávidos de deixar as drogas e retomar suas vidas. Não tardou para que eles passassem a ser conhecidos como Chiaro e Mada. Novas vidas, novos nomes, a exemplo de Simão (Pedro), Saulo (Paulo) e tantos outros. Ele levou sua sensibilidade artística consigo e passando a trabalhar uma concepção de arte a partir de sucatas de ferro velho, viu naquilo uma forma de levar Deus para as pessoas.

            O casal fez história em Lagarto, não somente na educação e na cultura, mas por fazerem parte de um capítulo muito significativo da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, que alcançou o mundo inteiro. Poucos anos antes de terem abraçado a espiritualidade focolarina, em 1989 o então Monsenhor Mário Rino Sivieiri recebia Frei Hans e Nelson, que após uma tentativa frustrada na cidade de Propriá, encontraram em Lagarto, numa propriedade do saudoso Irineu Fernandes, a oportunidade um projeto social e religioso com o ideário dos Focolares.

            A Fazenda da Esperança nasceu em Lagarto no dia 22 maio de 1999 e passou a se chamar Fazenda São Miguel, inaugurada oficialmente quatro dias depois, sob as bênçãos do Bispo de Estância, Dom Hildebrando Mendes Costa. Chiaro e Mada foram os primeiros a abraçar a causa e seguem firmes até hoje, residindo em São Paulo, na Fazenda da Esperança de Guaratinguetá. Ele, apesar do trágico acidente automobilístico que sofreu faz pouco anos, ficando tetraplégico, segue com aquele mesmo carisma daquela palestra e bate-papo que tivemos. Enveredou pelo campo da psicologia e continua, por atividade remota, atuando no projeto.

            Hoje, a Fazenda da Esperança é uma realidade em várias partes do mundo, contando com a colaboração dos frutos de inúmeras vocações que nasceram em Lagarto, a exemplo dos Padres Anderson e Luís, além de Angelúcia, Nelson, Luciene Rosendo, entre outros. Por muito pouco, não fiz parte desse time. Oportunidades não faltaram.

            A vida me levou para outras direções, sem perder o foco. Eu deixei o Movimento Focolare, mas ele não me deixou. Seus ensinamentos seguem, de alguma forma, ditando minhas escolhas, orientando meus caminhos e apontando as melhores direções. Inevitavelmente, Chiara e Mada me proporcionaram a melhor experiência religiosa que já tive até a presente data e que ainda ressoa fortemente em minha jornada.

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