DIÁRIO DE UMA QUARENTENA (PERALTICES)

27 de maio de 2020 - 15:21, por Claudefranklin Monteiro

            Em 1977, uma canção fez muito sucesso na voz de Roberto Ribeiro, sambista carioca muito popular, falecido em janeiro de 1996. Dono de um vasto repertório, suas músicas chegaram a ser temas de algumas novelas, além do fato de o colocar entre os maiores vendedores de disco do Brasil. A canção a que me refiro é de autoria de Nelson Rufino e Zé Luiz: “Todo menino é um rei”.

            Seu refrão me remete a uma série de lembranças de minha infância, as quais tentarei dar conta de narrar, sem me comprometer a ser cronológico ou preciso nas datas: “Todo menino é um rei / Eu também já fui rei / Mas quá! / Despertei”.

            Em torno de cinco a seis anos, já fazia pequenos favores para os adultos lá em casa. Meu irmão mais velho, me pedia para comprar cigarro Hollywood, seja na bodega de Seu Pedro (vizinha a nossa casa na Travessa Municipal), seja na bodega de Seu Raimundo, uma quadra a mais, na direção do Cemitério Senhor do Bonfim. Também ia pegar o leite e até comprar pão.

            Havia um lugar que eu ia muito. Passava o dia praticamente todo por lá, sobretudo quando ainda não estudava ou estava de férias. A casa de Fabiano Rabelo Machado. Até frequentar no nível superior, fomos amigos inseparáveis, incluindo sua irmã, Elis Regina. Mesmo depois que ele se mudou da Rua Laudelino Freire para a Rua Mizael Vieira. Ele nasceu no mesmo ano que eu, 1974, com uma diferença de uma semana. Ele é do dia 25 de fevereiro e eu do dia 6 de março.  

            Eu, Fabiano e Gabriel, seu primo (falecido recentemente), formávamos um trio genial. Gabriel era muito inteligente e desenhava divinamente bem. Fabiano, também era outra potência nos estudos. Nos reuníamos para brincar e fazer as lições na casa de Dona Terezinha, a avó deles. Fizemos muitas coisas, inclusive, brincar de circo. Brincadeiras circenses extraordinárias, com direito a mágica, palhaços e imitações de cantores e grupos de sucesso à época, a exemplo de Fábio Júnior, Menudos e Dominó.

            Outra turma inesquecível era composta pelos filhos da vizinhança de nossa casa: Railton, Marliton, Demar, Antônio Carlos de Zé Pinchincha, só para citar os mais chegados. Nossa brincadeira predileta era brincar de bola na rua, num espaço que ficava entre a Praça Monsenhor Daltro e um antigo posto de saúde, do Governo de Sergipe, atualmente abandonado. Também brincávamos de outras coisas, a exemplo de caça ao tesouro.

            O fato é que eu rodava praticamente todos os lugares de Lagarto. Não havia a insegurança de hoje. Nossas casas não tinham grades e até podíamos tirar um cochilo à tarde de janelas abertas. É fato que havia ladrão, por exemplo, mas loucura que tem hoje, nem compara. O que mais me dava medo, mas ainda assim era uma diversão eram as pessoas de pouco juízo, atormentados mentalmente por alguma coisa. Já escrevi uma crônica sobre eles, os “malucos beleza”: Assis, Seu Olímpio, o Doido da Caixa, Dona Baratinha, entre outros.

            Outro dia, a fim de fazer um carro de rolimã, que nunca saiu do papel por conta das limitações financeiras e técnicas, atravessei a cidade para ir pegar uns rolimãs num ferro velho. Mas faltava a madeira, os pregos… Minha mãe quase morre de agonia, pois demorei a ir e demorei mais ainda a chegar. Salvo engano, o lugar ficava onde hoje é o Fórum Epaminondas Silva de Andrade Lima ou ao menos nas proximidades. Era uma longa caminhada para um garoto.

            Na Praça da Piedade, catava ovos de lagartixas, até descobrir que além de fazer mal às mãos (micose ou coisa do tipo), estava interrompendo o ciclo de reprodução delas.  Como já tive a oportunidade de dizer em outra crônica, os jardins eram lindo e harmoniosamente bem cuidados. Havia uma espécie de lago, com uns sapos de pedra, onde a gente ficava de cócoras em cima. Outro dia, levei uma queda horrível e quase fraturei o tornozelo direito. Deixou uma folga num dos nervos até hoje, que movo voluntariamente, sem dor, claro. O acidente aconteceu depois de tentar pular um dos bancos que ficava de frente para a Casa Paroquial.

            Enfim, foram inúmeras as peraltices. Tantas que não caberiam numa crônica. Mas nada se compara a uma aventura da qual fiz parte com mais dois garotos. Se não me falha a memória, um deles era Fabiano, mas não vou fechar questão. O fato é que “invadimos” o Hotel Palace (inaugurado em setembro de 1966, pelo prefeito Ribeirinho), mas que no início dos anos 80 já se encontrava abandonado. O elevador estava interditado, subimos pelas escadas. No caminho, encontramos fichas de roleta jogadas pelo chão. Cheguei a pegar uma delas, mas não preservei. Alcançamos o último andar (acho que eram cinco), com facilidade. Com receio da altura, nos deitamos no chão e fomos nos arrastando até chegar à borda do terraço. De lá, cuspíamos ou atirávamos tampas de cerveja. Passados tantos anos, pensei sobre o risco que corremos.

            É, caríssimo leitor, que me acompanhou paciente em minhas memórias até agora: eu também já fui rei.

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