CONTE SUA HISTÓRIA, ANCELMA MONTALVÃO

16 de setembro de 2021 - 10:46, por Claudefranklin Monteiro

            Na memória escolar de Lagarto, há lugares e pessoas que precisam ser conhecidas. Nomes que colaboraram de forma significativa para a formação e para a transformação da sociedade lagartense. Por injustiça e até mesmo por falta de uma educação patrimonial efetiva e consistente no município, esquecemos ou não damos conta de suas existências. Ainda bem que a ciência histórica, no afã de cumprir com uma de suas missões, está sempre atenta, notadamente, para lembrar, perpetuar memórias e celebrar.

            Filha de Francisco Bastos Costa e Maria Pureza Nilo Costa, a professora Maria Ancelma Costa Montalvão nasceu na cidade de São Cristóvão, no dia 13 de agosto de 1939. Em Lagarto, como veremos adiante, deixou um legado importante para a educação, com uma passagem marcante, entrando para a história da cidade com uma das figuras mais expressivas, tendo deixado saudades , sobretudo em seus alunos, que a chamavam carinhosamente de tia Celma.

Maria Ancelma Costa Montalvão
(Acervo Memorial Selma Montalvão – Instagram)

            Sobre sua infância, em sua cidade natal, assim se expressa: “Considero uma infância maravilhosa, numa época em que as brincadeiras eram a correria do esconde-esconde ou a calmaria das lindas histórias contadas pelos mais velhos. Infância muito feliz” (Aracaju-SE, 26 de agosto de 2021).

            Tendo feito sua formação inicial em São Cristóvão-SE no Educandário Nossa Senhora Auxiliadora, foi estudar em Aracaju, em 1949, no Colégio Patrocínio São José, do qual guarda excelentes e ternas lembranças colegas e das freiras zelosas. Segundo ela, era ambiente cristão e de muito conhecimento a ser conquistado e explorado. Inesquecível!

            É formada, desde os anos 70, em Pedagogia pela Universidade Federal de Sergipe. E iniciou sua vida profissional em Lagarto, onde foi morar em 1959 após o casamento com seu dileto esposo Fernando Montalvão (falecido em março de 2020). Ele era funcionário do Banco do Brasil e foram acolhidos em terras lagartenses com muita simpatia. Com Fernando, teve quatro filhos. É, atualmente, avó e bisavó: “Minha família é meu maior e inestimável tesouro” (Aracaju-SE, 26 de agosto de 2021).

Formatura na Universidade Federal de Sergipe
(Acervo Memorial Selma Montalvão – Instagram)

Em Lagarto, fundou a escola de Jardim de Infância, como era chamada na época, cujo nome era Centro Educacional Pequeno Polegar, em 1969. Depois, adquiriu o Colégio Nossa Senhora da Salete, em 1975, que pertenceu ao professor Ênio. Nas referidas instituições, colocou em prática com sua equipe um projeto pedagógico inovador, para as décadas de 60 e 70, que levava em consideração a participação do aluno na construção do próprio saber, à luz do método educacional construtivista desenvolvido por Jean Piaget (1896-1980).

Toda a minha vida em Lagarto foi de muita alegria e trabalho incansável.  Momentos de muita felicidade, dos quais destaco  a conquista do título de Melhor Banda Marcial, no Concurso de Fanfarras do Estado de Sergipe. Fomos a primeira escola do interior do estado a receber esse título. Nossos alunos não esquecem as grandes emoções desse dia tão especial” (Aracaju-SE, 26 de agosto de 2021).

A Escola Nossa Senhora Salete era uma escola particular de orientação cristão, ideia que foi defendida e mantida por Ancelma Montalvão desde a primeira diretora da instituição, a senhora Erundina Mota. A orientação religiosa oferecida aos alunos voltava-se para as reflexões morais que nascem dos principais cristãos, sempre considerando o Deus apresentando por Jesus, em sua comunhão com Ele: Deus que é Pai, Deus que é amor, afirma Montalvão em entrevista.

(Acervo Memorial Selma Montalvão – Instagram)

Sobre o antigo Educandário Nossa Senhora da Salete, o professor Rusel Barroso destaca:

“(…) era uma escola de conceito jovem, foi a primeira a adotar a calça jeans no seu uniforme, em Lagarto. Sem dúvida, uma inovação para aquela época, pois abandonava os tradicionais tecidos utilizados pelas demais unidades escolares. Também a pioneira na inovação de ritmo de sua banda marcial, chamou a atenção do público, na capital, numa apresentação que lhe rendera o troféu de primeiro lugar. Lembro-me, ainda, de que grande parte de seus professores eram jovens e oriundos de Aracaju. Estudar na “escola dos bancários” ou no “colégio das freiras” era o desejo de muitos, mas o valor da mensalidade, muitas vezes não lhes permitia. Não obstante haver estudado no Colégio Laudelino Freire, ingressei no Salete em duas ocasiões: a primeira, em 1978, quando dirigida pelo casal Fernando e Anselma Montalvão. No ensejo, a convite do amigo Kennedy Fonseca, para integrarmos um grupo de interessados em estudar inglês, conduzido por um docente daquela casa (Marco Antonio Torres Cavalcanti, hoje médico, pioneiro em nosso estado em estudos de reprodução humana); a segunda, em 1981, quando eu residia em Aracaju, e recebi um honroso convite de sua nova diretora, a professora Adelina Maria de Santana Souza, para compor o corpo docente daquela casa, pela qual me enamorei, tornando-me um amigo da escola até o encerramento de suas atividades. Vale ressaltar, que, graças ao imprescindível apoio da inesquecível colega, nasceu em Lagarto, há 40 anos, a primeira escola de línguas do interior do estado, a OACI Idiomas, em atividade até o presente” (Lagarto, 10 de agosto de 2021).

Segundo o historiador Floriano Fonseca, Ancelma Montalvão fundiu as duas escolas, o Polegar e o Salete, depois da morte de dona Erundina Mota. Funcionava nas proximidades da antiga loja Insinuante, na Rua Laudelino Freire, migrando para a Rua Lupicínio Barros, onde é a Loja Ultralar, e depois passou a funcionar por muitos anos, até sua extinção, na Avenida Presidente Kennedy, onde hoje é a Biblioteca Municipal José Vicente de Carvalho.

Para Floriano Fonseca:

“A atuação de dona Celma Montalvão era fantástica. Ela não era só a diretora. Era mãe, amiga e muito divertida. Enquanto seu esposo, seu Fernando era uma pessoa fechada, dona Celma era uma muito dada. Era um colégio em que as pessoas frequentavam a diretoria, a sala dos professores, não havia restrições, mesmo sendo uma época de ditadura. Dona Celma envolvia os alunos em tudo. No esporte, queria que os alunos dessem o melhor. No ensino, havia bons professores, inclusive trazendo os professores Marcos e Wellington que deram uma contribuição muito grande. A casa dela se transformou numa extensão do colégio. Todas as noites nós estávamos por lá. Primeiro, por que ela tinha três filhos, Kátia, Fernandinho e Celsa, que eram da idade da gente e faziam parte de nosso grupo” (Lagarto-SE, 11 de agosto de 2021).

Floriano destaca ainda a generosidade de dona Celma, que não tinha preocupação com o lucro e sim em ajudar os alunos mais carentes com bolsas de estudo. Era desapegada com vantagens econômicas e isso acabou dificultando a manutenção da escola, pois a sede não era própria e o dono queria vender por um valor que ela não dava conta de cobrir, lhe desgostando. Mais tarde, o Colégio Nossa Senhora Salete passou para as mãos da saudosa professora Adelina.

Desfile de 7 de setembro em Lagarto – Anos 70
(Acervo Memorial Selma Montalvão – Instagram)

Fátima Vasconcelos, esposa do professor Ademir Francisco, no Memorial Celma Montalvão, um perfil em homenagem à mestra no Instagram, afirma que sempre sonhou em estudar no Salete, mas não tinha condições financeiras. Foi quando tia Iaiá Romero lhe proporcionou essa alegria:

“Foi a partir daí que eu aprendi as palavras generosidade, amor ao próximo e caridade. (…) Dona Celma, amor eterno na minha vida, naquele tempo. Pode ter certeza que meu aprendizado foi dos melhores. (…) sinto-me uma privilegiada por ser uma Saletiana e poder dizer a todos que você foi minha diretora, uma diretora fora dos padrões da época, uma diretora que sempre me ajudou e nunca deixou transparecer que eu era estudante de graça” (Lagarto-SE, 31 de dezembro de 2020).

Aposentada, viúva há quase dois anos, Maria Ancelma Costa Montalvão reside em Aracaju, desde a década de 80. Segundo ela, sua rotina é a de uma idosa grata (com 82 anos), feliz e muito cheia de disposição para realizar suas atividades físicas, passear com os filhos e netos, encontrar a família. Gosta de ler, assistir a uma boa série pela TV, como também de ir ao cinema e tomar um café em algum recanto aconchegante, com suas amigas.

Sobre Lagarto, assim se expressa:

“Sinto saudades do tempo que corria mais lento, da cidade pequena em que todos se conheciam, da rotina da semana e finais de semana, sinto saudades dos risos que ecoam até hoje… Sinto saudades de muita coisa, de muita gente. A minha saudade, contudo, é gratidão plena, sem desejo de voltar no tempo, mas um desejo de agradecer por ter recebido (e ainda receber) tanto de uma comunidade” (Aracaju-SE, 26 de agosto de 2021).

No dia 7 de setembro de 2002, a professora Ancelma Montalvão foi homenageada em Lagarto, com a Menção Honrosa Prof. Abelardo Romero Dantas, uma iniciativa da OACI Idiomas. Na Rede Municipal de Ensino de Lagarto, já houve uma unidade escolar que levou o seu nome. Funcionava na Mangabeira e foi extinta. Brevemente, estará recebendo, com muita justiça e não sem tempo, o Título de Cidadã Lagartense, por indicação do vereador Matheus Corrêa.

Banda Marcial do Salete – A Azurra
(Acervo Memorial Selma Montalvão – Instagram)

Xingó Parque Hotel & Resort

O Xingó Parque Hotel & Resort está situado perto da usina hidrelétrica Xingó e dos famosos cânions do Velho Chico, a 77 km do Aeroporto Paulo Afonso. Tudo isso, às margens do Rio São Francisco no município sergipano de Canindé. 

 

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