AOS DEVOTOS DO ROSÁRIO DOS PRETOS DE SÃO BENEDITO EM LAGARTO-SE (1771-2021)

7 de outubro de 2021 - 09:11, por Claudefranklin Monteiro

            Há exatos 250 anos, era instalada na Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito. À época, era responsável pela administração paroquial o padre João da Cruz Canêdo. Até então, apenas duas devoções se faziam notar: a Santo Antônio e Senhora Santana, que vieram com o fundador, Antônio Gonçalves de Santomé, e à Virgem Santíssima, desde a cura da moléstia dos primeiros habitantes na segunda metade do século XVII.

Benedito, de alcunha o Mouro nasceu na Sicília, Itália, no dia 31 de março de 1526, numa aldeia chamada São Filadelfo. Segundo consta de sua hagiografia, seus pais fizeram uma promessa a Deus para que sua primeira cria fosse um varão. Seu dono teria dito aos mesmos que, se isto acontecesse, ele lhe daria a liberdade. E isto de fato aconteceu, por isso o nome de batismo que quer dizer “ que é abençoado”. Seus pais ainda tiveram outros três filhos: Marcos, Baldassara e Fradella.

São Benedito foi pastor, como o pai, depois lavrador, antes de entrar no convento. Da lida na terra, conseguiu amealhar alguma soma em dinheiro para manter-se e aos pais. Aos  vinte e um anos de idade, iniciou vida religiosa, influenciado pelo eremita Jerônimo Lanza. Sua fama de milagreiro se deu em função de ter curado uma mulher com câncer nos seios, agindo sobre ela com um sinal da cruz.

No convento, foi cozinheiro, sobretudo em razão de sua origem humilde, de sua cor e de sua pouca formação intelectual. Apesar disso, foi responsável por diversos dos milagres, praticando a caridade e provendo alimentos em tempos de penúria. Suas investidas milagrosas e a grande repercussão que alcançou, em 1578 foi elevado à condição de guardião do Convento de Santa Maria de Jesus. Ele tinha 52 anos e era respeitado por seus superiores e irmãos.

São Benedito viveu sessenta e três anos, falecendo no dia 04 de abril de 1589. Ele foi declarado padroeiro da cidade de Palermo, em 1652 e teve seu culto aprovado por decreto da Santa Sé Apostólica, no ano de 1743. Foi beatificado, em 1763, pelo papa Clemente XI, considerado também Bem-aventurado.  Foi sagrado como Santo pela Igreja Católica, no pontificado de Pio VII, em 1807.

Imagem de São Benedito da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto (1831).

No Brasil, notadamente conhecido por ter sido um lugar de escravos negros africanos, a Igreja Católica se valia das confrarias, sobretudo as que tinham Nossa Senhora do Rosário ou São Benedito como patronos, para cristianizar os africanos, procurando por meio de festas populares recriar, por exemplo, o ato de coroação dos reis e rainhas negras que faziam alusão aos Reis do Congo.

Os devotos de São Benedito, membros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, a exemplo do que se deu em outras partes do Brasil, compunham uma parcela importante do catolicismo, dito popular, e que, portanto vivia, ainda assim, à margem da hierarquia eclesiástica. Por esse motivo, realizam seus atos quase que de forma independente, tendo ou não o apoio e a participação do pároco.

A devoção a São Benedito ganhou corpo e importância entre as atividades da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Vila do Lagarto, que deixou de ter caráter exclusivamente mariano. Concomitante às mudanças que a Vila de Lagarto passava e a religiosidade popular ganhou corpo. Lagarto era uma vila agropecuarista por excelência, mas também investiu na cultura canavieira. Por isso, além da conhecida fuga de escravos de outras regiões que se alojavam em seu interior desde o final do século XVII, havia uma quantidade importante de negros nestas atividades econômicas.

Construída por escravos negros no século XVIII.

Foi nesse contexto, portanto, que tanto a devoção à Nossa Senhora do Rosário como a devoção a São Benedito passaram a fazer parte da vida religiosa da Vila do Lagarto. Assim, no ano de 1771 foi aprovado pela Coroa Portuguesa o Termo de Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Igreja da Vila do Lagarto.

Naquele ano, a vila tinha cerca 317 habitações e 2.342 pessoas. A Irmandade era bastante estruturada e composta não somente por negros, mas também por brancos devotos. O que explica a popularidade de São Benedito, que em certa medida tornou-se tanto ou mais popular que à Nossa Senhora da Piedade à Nossa Senhora do Rosário.

Entre as principais práticas e obrigações da Irmandade do Rosário, destaque para: contribuir financeiramente com dois tostões para a entrada e quatro vinténs anuais para a festa do Rosário (geralmente no dia seis de janeiro), valores que poderiam variar de acordo com a condição da pessoa, se solteira ou casada, se homem ou mulher, se escravo ou livre; contratar sacerdote para celebração de missas e exposição do Santíssimo; rezar diariamente, confessar-se frequentemente e comungar com regularidade; ajuda de custo para tratamento de saúde e garantir sepultamento digno aos irmãos e rezar pelas almas, sobretudo as do purgatório.

Ao longo dos últimos 250 anos, podemos resumir da seguinte maneira a presença do chamado catolicismo popular em Lagarto: até 1928, manteve-se atuante e alcançou seu auge na gestão do Monsenhor Daltro (1874-1910); em seguida, sofreu um momento de quase extinção ou de esquecimento até o ano de 1983, com algumas tentativas de renascimento nas gestões de Monsenhor Marinho de Monsenhor Mário. Com o padre Raimundo Diniz, sobretudo depois de 2012, voltou a ganhar importância, quando este além de prestar uma homenagem aos devotos pretos de Nossa Senhora do Rosário, na frente da capela, autorizou o retorno da procissão e da participação das Taieiras.

Com o envolvimento de alguns leigos, os sucessores de Diniz, os padres Valmir Soares e Rodrigo Fraga, sensíveis a esse tipo de religiosidade espontânea, mantiveram a tradição que praticamente renasceu das cinzas da história, fazendo valer a identidade devota do povo lagartense, sob diversos aspectos santa e promissora em termos de evangelização e conversão, o que em muito contribui para vida social do povo lagartense, mas também, e porque não dizer, cultural e econômica.

As Taieiras fazem honras festivas à Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito há muitos anos. Atualmente, é um grupo de senhoras que se apresentam em algumas ocasiões sob a coordenação da Associação Folclórica de Lagarto.

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