VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? – UMA REFLEXÃO SOBRE A CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2023

24 de fevereiro de 2023 - 10:52, por Claudefranklin Monteiro

            Pela sexagésima vez, desde quando foi criada em 1964, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos convida para refletir os males que afetam a sociedade brasileira a partir da realização da Campanha da Fraternidade (CF) e à luz das práticas de piedade cristão típicas do tempo quaresmal. Ao longo das últimas seis décadas, a Igreja Católica brasileira assume o compromisso de pôr o dedo na ferida e instar seus adeptos a deixarem o comodismo do louvor pelo louvor, a oração pela oração.

            Em 2023, o tema é “Fraternidade e Fome” e o lema “Dai-lhe vós mesmos de comer”, extraído do Evangelho de São Mateus, capítulo 14, versículo 16. É a terceira vez que a fome é mote reflexivo e de ação para uma Campanha da Fraternidade. Em 1975, “Repartir do Pão”. Dez anos depois, “Pão para quem fome”. Frente ao exposto, a primeira provocação que faço é a seguinte: porque esse problema ainda insiste e se torna cada vez mais recorrente?

            Atualmente, os números em torno da fome são alarmantes e trágicos, para não dizer apocalípticos.  No Brasil, são 33,1 milhões de pessoas que vivem e morrem em razão deste mal. No mundo, são cerca de 830 milhões até 2022. Índices e estatísticas que levaram o papa Francisco a afirmar que: “para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha”.

            Eu diria mais: é uma imoralidade! Digo isto, sobretudo, pela leitura que fiz do Manual da CF deste ano. Aqui e ali, é possível perceber a quem interessa a fome e certamente aos mesmos a quem interessa manter as enfermidades sem solução ou sem vacina, como vimos agora com a pandemia de COVID-19. Interessa a uma lógica perversa do capital, que só enxerga o lucro acima do lucro e o acúmulo vergonhoso de dinheiro, riquezas e bens. Além da soberba do seu capital simbólico às voltas com seus títulos de “nobreza”, seu pavonismo e suas enfadonhas convenções sociais.

            Para além das catástrofes naturais, da violência, e até mesmo do que o vírus mortal foi capaz de provocar nos últimos dois três anos, as chamadas causas estruturais, também, e acima de qualquer coisa, as “contradições de uma economia que mata pela fome” (ver p. 13), “à falta de compaixão, o desinteresse de muitos e uma escassa vontade social e política de responder às obrigações internacionais” (ver p. 18). Ou ainda: “deterioração socioeconômica e profundas desigualdades na sociedade brasileira” (ver p. 31).

            E não se trata de um discurso comunista, como rotulam os indiferentes às causas da fome. Aqueles mesmos que se conformam no seu bem-estar, nas suas mansões, ações, negócios, farras e toda uma série de abusos, que não somente ferem à dignidade humana, mas também matam a humanidade. Para além do caviar caríssimo que essa gente delicia e da bebida sofisticada que aprecia, há sangue e culpa em suas mãos. Sangue de inocentes que quedam famintos diante da maior necessidade vital do ser humano: comer.

            A imoralidade é ainda mais gritante, quando sabemos que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Que a turma do agronegócio, em sua maior parte, visa única e exclusivamente o lucro, defendendo a pátria como quem defendem a própria conta bancária. E que morram à mingua os pobres e famintos, que antes de serem incômodos para a suas consciências, são um empecilho para seus interesses. Além de se incomodarem com a presença dos mais carentes, têm nojo e põem a culpa apenas no governo e até mesmo na Igreja ou nos comunistas.

            Definitivamente, a lógica cristã não combina com a lógica perversa de um capital que não entende que a fome e todos os outros males sociais são um péssimo negócio. Manter mais de 31 milhões de pessoas no Brasil com fome não me parece ser inteligente. Digo mais, é satânico. E mais diabólico ainda, pensar como alguns discípulos propuseram a Cristo quando se compadeceu de uma multidão faminta: “Este lugar é deserto e a hora é avançada. Despede esta gente para que vá comprar víveres na aldeia” (Mt, 14,15). Ou seja, lavar as mãos como Pilatos, jogar o problema para debaixo do tapete e não encarar a realidade e buscar uma solução para o problema.

            Que a Campanha da Fraternidade deste ano possa, enfim, fazer com que as pessoas saiam de sua letargia e comodismo. Que elas não esperem soluções mágicas das autoridades e que, ao mesmo tempo, cobrem destas; que não fiquem imaginando que os ricos avarentos tenham consciência e doem parte do que têm, e têm muito e até demais, aos mais necessitados. Às vezes, ações como a daquela viúva do Evangelho, que deu tudo do nada que tinha, surtem mais efeitos do que grandes pirotecnias da política populista barata ou o falso moralismo religioso de alguns ricos.

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