LAGARTO NO CONTEXTO DAS SERGIPANIDADES

24 de outubro de 2023 - 10:47, por Claudefranklin Monteiro

Grupo Parafusos

Nos últimos decênios, tornou-se natural associar as discussões sobre Sergipanidade e, mais atualmente, assim posto em seu plural, Sergipanidades, à memória do intelectual Luiz Antônio Barreto. A meu ver, aquele que melhor concebeu esta identidade de forma conceitual e didática.

Luiz, natural da cidade de Lagarto, aos 10 de fevereiro de 1944, a menos de um ano de seu falecimento, aos 17 de abril de 2012, se reuniu com alguns de seus conterrâneos para apresentar uma proposta que foi, não somente o embrião da Academia Lagartense de Letras, mas também da afirmação da ideia de Lagartanidade.

Ele vinha percorrendo o Estado de Sergipe com alguns amigos próximos, no afã do que viria a ser a sua última grande contribuição em vida: a interiorização do protagonismo cultural, por meio da criação de Núcleos de Saberes Locais. Ideia, àquela altura, já bem-sucedida em Itabaiana, com o “Grupo Itabaiana é Grande”, sob a liderança de Robério Santos, e, desejoso que os bons ventos também soprassem para “os papa-jacas”.

Era o dia 20 de setembro de 2011. Estivemos reunidos com ele em Lagarto, no restaurante “A Frigideira”, eu (Claudefranklin Monteiro), Floriano Fonseca, Assuero Cardoso, Emerson Carvalho, Patrícia Monteiro, Mariana Emanuelle, Angélica Amorim, José Uesele, Renato Araújo, Danilo Santana, Lucas Brasil e Rusel Barroso

Ali, naquele dia histórico, nasceu O VISGO DA JACA, ideia que foi prontamente abraçada por todos, ainda que tivessem surgido ao longo da conversa, ressalvas e ponderações normais, sobretudo de boa parte desse grupo que já vinha ressabiada de muita coisa no campo cultural lagartense fazia algum tempo, com altos e baixos, entusiasmos e decepções.

O nome do grupo não surgiu naquela primeira reunião. Até ventilamos a possibilidade de sê-lo como ficou batizado, mas foi amadurecido entre mim, Luiz Antônio e a professora Patrícia Monteiro. Ficou Visgo da Jaca mesmo, uma referência ao jornal Visgo da Jaca que circulou mimeografado nos anos 80 em Lagarto, contando com figuras como Carlos Magno, Floriano Fonseca, João Brasileiro, Enoque, Souza e Maria Paixão.

Como já tive oportunidade de registrar naquele ano, na Revista Perfil (edição de outubro): “Na dúvida sobre qual nome daríamos, eu, que adoro umas galhofas, e sem perder tempo em tirar uma onda com Itabaiana (típico entre as duas cidades), cheguei a afirmar na reunião: Se o nome do grupo de Itabaiana é Itabaiana é Grande, o nosso bem que poderia se chamar assim: “Itabaiana é Grande, mas Lagarto é Maior Ainda”.

Daquele pequeno grupo, nasceu pouco tempo depois a ideia de transformá-lo em uma academia beletrista. Sob à coordenação do professor Rusel Barroso, eu, Assuero Cardoso e Emerson Carvalho (in memoriam), criamos a Academia Lagartense de Letras, em fevereiro de 2013, instalada oficialmente no dia 19 de abril do mesmo ano. Todo o processo teve o incondicional apoio da Academia Sergipana de Letras, nas pessoas de José Anderson Nascimento, Domingos Pascoal de Melo e José Anselmo de Oliveira.

O que acontecia em Lagarto era reflexo do que havia ocorrido a partir dos anos 2000/2001, quando a Sergipanidade encontrou vez no calendário e nas políticas públicas do Estado de Sergipe, notadamente  quando a Mesa Diretora da Assembleia Legislativa alterou o artigo 47 da Constituição Estadual em que era estabelecido que a Emancipação Política do Estado fosse comemorada duas vezes ao ano: 8 de julho e 24 de outubro; ficando a primeira como oficial, para o evento político, e a segunda dedicado ao Dia da Sergipanidade.

Inspirado no pensamento de Sandra Jatahy Pesavento (importante historiadora gaúcha, falecida em 2009), sobretudo quando certa feita afirmou que a identidade é: “(…) um esforço de distanciamento daquilo que se vive, para melhor entender o que se vive” (2004, p. 223), apresentei à Câmara de Vereadores de Lagarto a criação do Dia da Lagartanidade, aprovada por unanimidade e sancionada pelo então prefeito, José Valmir Monteiro, por meio da Lei Municipal Nº 321 de 05 de abril de 2010.

Considerando que somente a elevação de Lagarto à condição de cidade, no dia 20 de abril de 1880, era comemorada, entre os argumentos apresentados aos vereadores e ao senhor prefeito estava a importância da se valorizar o dia 20 de outubro (data de fundação da Vila de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto, em 1697), por entender que naquele momento fundava-se, de alguma forma, um sentimento de pertença, estabelece-se um marco identitário, ainda que o sentir-se lagartense estivesse por ser construído; assim como um melhor e mais sistematizado conhecimento sobre seu passado, a consciência de seu presente e a expectativa de futuro.

Passados trezes anos, a Lagartanidade, o Dia 20 de Outubro, é uma realidade. Já estão cristalizados no imaginário das pessoas comuns e acordado entre autoridades e intelectuais. E o mais importante, a consciência deste sentimento tem sido o motor de inúmeras ações de valorização e proteção do patrimônio cultural lagartense, seja por meio da atuação resistente do grupo folclórico Parafusos, por exemplo, seja com o final feliz de uma luta de seis anos junto ao Governo de Sergipe, que resultou no início célere da reforma e restauração do Grupo Escolar Sílvio Romero, fundado em 1923. Minha esperança é que este sentimento de pertença e esta marca identitária ainda produzam frutos mais valiosos e promissores ainda, colaborando, sobremaneira, no processo educativo de crianças e adolescentes, mas também de formação da opinião pública, influindo de forma decisiva nas políticas públicas voltadas para a cidade de Lagarto e que, sem nenhuma dúvida, refletem no fortalecimento da ideia de Sergipanidade, que em si contempla e enseja todas as outras Sergipanidades, particularmente à do município de Lagarto.

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