CRÔNICAS DE MEIO SÉCULO (PRIMEIRA DÉCADA)

10 de fevereiro de 2024 - 11:03, por Claudefranklin Monteiro

Eu nasci no dia 6 de março de 1974, numa quarta-feira, às 14 horas, na Maternidade Zacarias Júnior, na cidade de Lagarto-SE, pelas mãos da parteira, a senhora Veralucia Dantas dos Santos. Fui criado na casa de minha avó materna, Eutímia, até me mudar para a antiga Travessa Municipal (hoje, Mineirinho), com a rua Senhor do Bonfim, uma casa de térreo e andar, numa esquina, por onde passavam os enterros quando havia ainda o costume da Missa de Corpo Presente na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, cuja Paróquia foi fundada no dia 11 de dezembro de 1679.

            Fui batizado no dia 12 de maio daquele mesmo ano, tendo como celebrante o monsenhor Jason Barbosa Coelho, pároco da Paróquia de Nossa Senhor da Piedade, cujo vigário era o padre Mário Rino Sivieri, que estava em Lagarto desde maio de 1968. Meus padrinhos, Adelmo de Carvalho Vieira (bancário de saudosa memória) e dona Risodalva Maria da Silva, ainda viva, morando em Aracaju.

            Sou o sexto rebento de doze de Maria Claudemira dos Santos Monteiro e José Almeida Monteiro. Destes se criaram sete: José Cláudio, Claudemir, Claudineide, Claudiane, Claudicleide, eu e Claudimarx. Os demais morreram por aborto espontâneo e Claudimary com apenas sete dias de nascida. Era comum naquela época famílias com uma prole grande. Sobre o prefixo “claude” que antecede ao meu nome e ao dos meus irmãos, foi ideia de meu irmão mais velho, de quem terei a oportunidade de discorrer mais a respeito em outras crônicas, foi uma homenagem à nossa mãe.

            Cresci achando que a inspiração devesse a Franklin Delano Roosevelt ou a Benjamim Franklin. Mas, na adolescência, soube que foi uma menção ao escritor, advogado, jornalista, político, teatrólogo e romancista, João Franklin da Silveira Távora (1842-1888), natural de Baturité-CE, cuja principal obra foi “O Cabeleira” (1876), do qual destaco a seguinte passagem: “As letras têm […] um certo caráter geográfico; mais no Norte, porém, do que no Sul abundam os elementos para a formação de uma literatura propriamente brasileira, filha da terra” (1988, p. 11).

            Quando eu nasci, o prefeito de Lagarto era o odontólogo Dr. João Almeida Rocha. Seu mandato teve início em janeiro de 1973 e se encerrou em janeiro de 1977. Foi casado com dona Waldomira Monteiro de Carvalho, prima por parte de pai. Seu pai era meu tio-avô, José Monteiro de Carvalho, que nos anos 60 quase chegou à Prefeitura, tendo vencido as eleições, mas falecido antes de tomar posse. Dr. João foi um excelente gestor, tido até hoje como um dos mais zelosos e honestos. Sua marca registrada foi a interiorização do ensino, com a construção de inúmeros grupos e escolas com nomes de países. Durante a primeira década de minha vida, Lagarto foi administrada por José Vieira Filho (1977-1982) e José Vicente de Carvalho (1982-1983). Além, claro, do primeiro ano de gestão de Artur de Oliveira Reis (1983-1988).

            Dessas gestões, tenho lembranças de seu Zé Vieira em diante. Deste, guardo a alegria e satisfação de, durante os preparativos do Carnaval, visitar a garagem do antigo trio elétrico da Prefeitura, que ficava na Avenida Santo Antônio. Daí veio minha paixão pelo carnaval trieletrizado, reforçada com o tempo, a partir da audiência dos discos do Trio Elétrico, Armandinho, Dodô e Osmar.

            Ainda sobre minhas origens, devo salientar que tanto a família de minha mãe, quanto a de meu pai têm raízes nas principais atividades econômicas do município, notadamente, agricultura, pecuária e comércio. Meu avô materno, Raimundo Nonato dos Santos, foi um dos homens mais ricos de Lagarto, com o comércio do fumo, tendo construído uma belíssima casa na Praça da Piedade, número 25 (hoje anexo da Prefeitura), onde morei boa parte de minha infância, como já disse.

            Por parte de pai, sou originário do ramo familiar Almeida Monteiro e Menezes, com inúmeros representantes de todo tipo, incluindo agropecuaristas importantes e também políticos e homens do Direito, a exemplo do desembargador, Dr. Libério Monteiro. Apesar disso, meus avós paternos, Antônio Monteiro de Carvalho e Alice de Almeida Monteiro foram pessoas simples e viviam da lavoura.

            Minha mãe, Claudemira, casou-se cedo, com apenas 16 anos, largando os estudos, dedicou-se somente à casa, ao meu pai e aos filhos e assim foi a vida toda. Meu pai, Zé Monteiro, foi de tudo um pouco para sobreviver, de vendedor de picolé a jogador amador de futebol, se fixando no comércio, como o dono do Bar e Mercearia São José, entre a Rua Senhor do Bonfim e Mizael Vieira, e também como vereador, por três legislações. Apesar da vida não ter sido fácil para eles e para nós, fomos felizes e nossa criação não deixou a desejar. Minha gratidão a minha babá, Lúcia, que me levava todos os dias para o bairro Libório, como também de dona Maria da Conceição Santos Silva (Neguinha), que cuidaram da gente muito carinho e afeto maternal.

            Até atingir a idade escolar, minha vida era a casa de minha avó materna, Eutímia, a quem era muito apegado, e Praça da Piedade, meu lugar predileto de Lagarto até a presente data. Ali, brincava incansavelmente, sobretudo nos canteiros da praça, catando ovo de lagartixa, e também no palanque. Amava os tempos de muita chuva e costumava sair para apreciar o temporal, chegando em casa todo molhado. Um “pirão”, como dizia minha mãe. Sem falar nos tempos de trovoada, onde cantava para que a tanajura caísse numa panela de gordura.

            Além disso, eu frequentava a Igreja Matriz (às voltas com meu tio materno, Antônio Carlos dos Santos – Tonho de Sinhô, sacristão) e meu irmão Cláudio que sempre me levava para as celebrações religiosas, todas elas, não somente as Missas. Também a Casa Paroquial e a Prefeitura Municipal de Lagarto. E, claro, o Hotel Palace, na rua Laudelino Freire, ou o que restou dele, abandonado desde sua fundação nos anos 60, por Rosendo Ribeiro Filho.

            No dia 14 de abril de 1978, vivi um dos primeiros reveses da minha vida. O falecimento de avó Eutímia. Apesar de ter apenas 4 anos de idade, lembro com detalhes daqueles dias, incluindo seu velório. Minha mãe, depois, me deu maiores detalhes sobre como eu agi, de como havia ficado abalado, não queria sair do quarto e chorava muito, tinha muito amor por ela e, no livro “Eutímia, crônicas para não esquecer” (2021), eu conto mais detalhes.

            Comecei a estudar o antigo 1º Grau (Ensino Fundamental) em 1981, Colégio Cenecista Laudelino Freire, sob a direção da professora Maria Eliane Machado do Nascimento, de quem morria de medo, sobretudo pela disciplina. Ali fiquei até o ano de 1988, concluindo a oitava série, onde tive na professora Luzia Vasconcelos uma das minhas grandes referências. Amava a escola, com seus pátios largos, sala frescas e uma qualidade de professores excepcional. Fazia educação duas vezes por semana no Tiro de Guerra, às seis horas da manhã. Não fui aluno brilhante, mas muito dedicado às voltas com colegas como Gabriel Machado (de saudosa memória) e Fabiano Rabelo Machado. Meus melhores desempenhos escolares foram nas matérias Comunicação e Expressão (Língua Portuguesa), História e  Educação Artística. Foi ali também que o Brasil vivia numa ditadura militar.

            Foi naquele primeiro ano de formação escolar que perdi meu amado pai, no dia 12 de janeiro de 1982. Se a morte vovó Eutímia foi um baque para mim, o falecimento de José Almeida Monteiro desencadeou um trauma que só fui superar com a morte de padinho Cláudio. Adquiri pânico de enterro, velório, caixão e até funerária. Foram anos muito difíceis às voltas com essa ojeriza. Apesar do pouco tempo que estivemos juntos, menos de oito anos, vivi com ele intensamente, estando sempre ao seu lado em tudo: jogos de futebol, Câmara de Vereadores, celebrações religiosas, festas, e, sobretudo, caçadas e pescarias, inclusive a sua última na Fazenda Jacoca, em Macambira-SE.

Com monsenhor Mario Rino Sivieiri – Primeira Comunhão (08.12.1984)

            Sobre minha formação católica, sou muito grato a tio Tonho e a Cláudio Monteiro. Este assumiu não somente as funções de pai para mim, mas também de padrinho, amigo, confidente e também, depois, colega de trabalho. Sem sombras de dúvidas, a maior referência de toda a minha existência. Desse tempo, guardo lembranças do Congresso Eucarístico de 1979 e do padre Mário Rino Sivieri, com quem fiz a Primeira Comunhão, no dia 8 de dezembro de 1984, encerrando assim a primeira década deste release de meus cinquenta anos de vida.

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