CRÔNICAS DE MEIO SÉCULO (SEGUNDA DÉCADA)

13 de fevereiro de 2024 - 16:51, por Claudefranklin Monteiro

O ano de 1985 não poderia começar melhor. De férias, fomos para Fortaleza-CE com nossa mãe visitar seus irmãos, Jacó e Maria do Carmo. Ficamos hospedados na casa dela e de seu esposo, Sebastião (falecido na última segunda-feira, 12 de fevereiro). Ali, eu vivi alguns momentos importantes que significaram uma das primeiras grandes viradas da minha vida. Era hora de abandonar a infância e entrar de cabeça na adolescência. No meu caso, eu não soube o que foi o que chamam hoje de pré-adolescência. Vocês entenderão o porquê mais adiante.

            A história e a política começaram a fazer parte de meu cotidiano. Já tinha noção de que o país estava atravessando uma quadra importante, mesmo com a frustação que foi a Emenda Dante de Oliveira, que pedia eleições diretas para presidente, em 1983 e também do Diretas-Já (1984). Foi em Fortaleza, em janeiro daquele ano de 1985, que pude testemunhar pela televisão a vitória de Tancredo Neves, que embora eleito de forma indireta, tinha a torcida da maioria absoluta dos brasileiros. Em abril, fatal e inesperadamente nós o perdemos para a morte e assumiu o seu vice, José Sarney. Foram tempos muito difíceis economicamente, embora o Brasil, enfim, respirasse democracia.

            Ainda em Fortaleza, não perdi uma só noite da primeira edição do Rock in Rio. Meus olhos vibravam diante da TV e ia dormir ansioso, acordando logo cedo para pegar o jornal diário na caixa de correios. Já tinha combinado com tio Bastião que ficaria com a sessão especial que trazia o release da noite anterior, com textos e fotografias do evento, cujos recortes colecionei por algum tempo e deixei na casa de minha tia Maria do Carmo.

            Tudo isso despertou em mim uma sensação de mundo novo e de vida nova. Já não era mais aquele menino da praça da Piedade. Voltei de Fortaleza ainda mais entusiasmado pelos estudos e cada vez mais interessado por aqueles três assuntos: história, política e música.

            O retorno para Lagarto foi surpreendente e coisas incríveis começaram a acontecer. Meu principal amigo de infância, Fabiano Rabelo Machado, havia se mudado da rua Laudelino Freire para a rua Mizael Vieira. Foi ali, em fevereiro de 1985 que tive a oportunidade de conhecer aquela que seria o grande amor de minha vida e hoje minha esposa há 26 anos: Patrícia dos Santos Silva, filha de Ranulfo (de saudosa memória) e de Josefa Luzinete (Lindete), vizinhos de meu amigo.

            Até então, já morando na antiga Travessa Municipal, 33, com rua senhor do Bonfim, mudei radicalmente meu círculo de amizades e locais de brincadeira. Passei a frequentar mais a rua Mizael Vieira e ali passei grande parte de minha adolescência, às voltas com meus estudos no Colégio Cenecista Laudelino Freire, à frequência às Missa Dominicais e trabalhando como entregador de pãozinho de queijo para minha irmã Analice (Didi), filha de Tica Teca, irmã de meu pai. Exerci a profissão informalmente dos 11 aos 17 anos de idade, quando fui para Aracaju, fazer o Nível Superior.

            Entre 1985 e 1989, minha amizade com Patrícia virou namoro. Numa primeira fase, de pura inocência e de medo, pois o pai não queria saber de sua filha namorando tão cedo, ainda mais com “um molequinho com a bola debaixo do braço”. Explico… Depois de conhecer Patrícia, por tabela também conheci seus vizinhos e amigos de infância, entre eles aquela que foi a minha primeira paixão, a hoje advogada Ana Isabela, neta da professora dona Laura Vieira, por quem nutria e tinha grande amizade, tendo sido uma das grandes responsáveis por minha formação religiosa, inclusive, me ensinando a rezar o Terço diariamente. Ana Isabela não me dava bolas, me via apenas como amigo. Patrícia era minha confidente e grande amiga, com quem fazia questão de conversar todos os dias, boa parte das vezes na casa de dona Laura, uma espécie de sítio, que ficava em frente a sua residência, número 388. Ali, costumava brincar de bola com a turma do bairro Pacheco, geralmente de baixa renda. Na cabeça de meu sogro, eu não tinha futuro.

            Alguns dos colegas de escola de Patrícia, Colégio Nossa Senhora da Piedade (o Colégio das Freiras, como era conhecido) passaram a fazer parte de meus novos círculos de amizades, além dos netos de dona Laura Vieira. Entre aqueles amigos Sandro Mesquita, Marconi, Genivaldo Gouveia, Max e Vicente, este último um grande parceiro até hoje, com quem compartilho até hoje o amor pelos Beatles e pelo Vasco da Gama.

            No dia 10 de junho de 1991, entre idas e vinda, eu e Patrícia nos beijamos pela primeira vez, nas escadarias do palco de madeira do pátio principal do Colégio Abelardo Romero Dantas (Polivalente), num intervalo de uma aula. Eu era um ano mais adiantado do que ela (eu fazendo o terceiro ano do Ensino Médio e ela o segundo), inclusive em idade. Ela é do dia 11 de março de 1975. A partir de então, entre idas e vinda, inúmeras dificuldades, o sentimento que nutríamos um pelo outro foi se solidificando e se fortalecendo.

            No Colégio Abelardo Romero Dantas estudei os anos 1989, 1990 e 1991. No primeiro ano, meu irmão Cláudio Monteiro, agora também meu padrinho de Crisma (desde pequeno, já nas primeiras palavras, eu já o chamava de “padinho” e assim foi até sua morte, em 2005), havia sido nomeado para ser diretor da escola. A gestão durou muito pouco, apenas seis meses. Perseguido pelo grupo politico Bole-Bole, foi exonerado causando uma grande revolta estudantil e popular, que alcançou eco na Assembleia Legislativa de Sergipe. Seu jeito especial de administrar levantou os primeiros reclames para a existência de uma gestão democrática, que levou anos para se concretizar.

            Até estudar no Abelardo Romero, eu era uma criança retraída e muito tímida. Como diria minha mãe, o Polivalente me desarnou. E foi mesmo. Cheguei aos meus quinze anos sabendo que seria professor e de história, mas só revelei quando me inscrevi para o vestibular da Universidade Federal de Sergipe. Fui aprovado em oitavo lugar, em janeiro de 1992, prestes a fazer 18 anos de idade, em março daquele ano. Foi uma enorme alegria lá em casa e na cidade de Lagarto. Fui notícia em emissora de rádio e também na impressa escrita. Assim como padinho Cláudio, eu iria fazer História na UFS e também ser professor, o que muito o honrou, embora acredite até hoje, no meu íntimo, que ele quisesse que eu fosse advogado ou sacerdote.

            Por falar em sacerdócio, andei tendo uma inclinação para a vida na Igreja, mais para o clero regular. Quis ser franciscano, mas meu tio Tonho me demoveu da ideia, me convencendo que eu deveria continuar meus estudos, fazer o Nível Superior e depois, quem sabe, seguir minha vocação. Como meu namoro com Patrícia não parecia ter futuro, pelos inúmeros reveses e oposição da família, notadamente do meu sogro, imaginei que na vida religiosa eu pudesse me realizar. Cheguei a anunciar ao monsenhor Mário esse meu desejo e quando este foi me apresentar publicamente, eu desisti e segui o conselho de meu tio.

            Por falar nele, como sou grato pelo seu carinho! Naquele tempo, com a vitória de José Raymundo Ribeiro (Cabo Zé) para a Prefeitura de Lagarto (1991), ele temia perseguição política e se mudou com sua esposa, Jovina (dona Jó) para Aracaju, na avenida Pedro Calazans, em frete à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde eu existia Missa quase que todos os dias, celebrado pelo padre José Alves de Castro, que foi pároco de Nossa Senhora da Piedade, em Lagarto, entre os anos 1954 e 1960. Ele me acolheu em sua casa e ali fiquei até me formar, em março de 1996. Só convivi com ele por apenas alguns meses, pois, muito deprimido, teve um AVC e faleceu em outubro de 1992. Passei a morar com a sua viúva uma filha de criação por nome de Francisca Eutímia. Mamãe estava em Fortaleza, fazendo cirurgia nos dois joelhos, que a pôs numa cadeira das rodas por quinze anos. Numa das férias da UFS, fui visita-la e já não era mais a mesma, carregando consigo uma tristeza que a acompanhou até seus últimos dias, embora ainda tivesse vivido alguns raros momentos de alegria.

            Graças a ela, fui empregado no Colégio Cenecista Laudelino Freire, como professor de Português, Literatura e Redação. Era o dia 1 de agosto de 1994, quando o vereador e professor Izaías de Jesus Carmo, a quem sou deveras grato, assinou minha carteira. Até me formar, não mais ficava com frequência em Aracaju, na casa de meu tio Tonho. Meu primeiro semestre no Laudelino Freire despertou a atenção das autoridades da CNEC, mais de perto de Carlos João e de sua esposa, Eliane, que passaram a bancar minhas passagens diárias para dar mais aulas no colégio. Assim, cheguei ao final de minha segunda década de existência, com o futuro acenando para mim com notícias promissoras.

Claudefranklin Monteiro (professor do Laudelino Freire em 1996)

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