CRÔNICAS DE MEIO SÉCULO (QUINTA DÉCADA)

9 de março de 2024 - 23:33, por Claudefranklin Monteiro

            Pai aos quarenta anos de idade. Assim começou a minha quinta década de vida, recebendo a notícia de mais uma gestão de Patrícia. Além de Pedro (Elli) e de José Almeida Monteiro Neto (in memoriam), fomos ainda agraciados com uma terceira gravidez. Desta vez, de gêmeos, mas não prosperou e ela teve um aborto natural aos dois meses. Isso a deixou muito temerária e traumatizada. De alguma maneira, já nos conformámos com uma única cria.

            Foi quando passamos a frequentar a comunidade do bairro Novo Horizonte, em Lagarto-SE, onde foi criada uma nova paróquia da Diocese de Estância, dedicada à Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, à época tendo como pároco o jovem padre Lucas. Foi ali que Patrícia voltou a ter entusiasmo pela ideia de ser mãe novamente. Minhas chances de procriar eram mínimas em razão do problema de varicocele que já informei. Mesmo com a cirurgia que fiz anos antes, não havia cura. Assim, ela recorreu à Santinha e alcançamos a graça. Júlia Gabriele Silva Monteiro nasceu no dia de Nossa Senhora da Conceição, aos 8 de dezembro de 2014.

Com Júlia Gabriele, fevereiro de 2024 (Foto de Valdênio Hora)

           

Doravante, nos tornamos devotos da Santa de Lisiex e para externar minha gratidão, tatuei sua imagem em meu antebraço direito, parte interna, em 2023. Devo salientar que a gravidez não foi nada fácil. Patrícia já era uma senhora de 39 anos e todas as gestações foram de risco. E tudo isso fortaleceu a nossa fé. Foi quando nossa vida deu uma nova guinada, desta feita do ponto de vista religioso.

            Apesar de ser católico de formação e de convicção, minha vida dentro da Igreja se resumia à Missa. Comungava com regularidade, mas não fui muito de engajamento, salvo o período em que quis ser religioso franciscano e participar do Movimento Focolare entre meus 15 e 20 anos. No máximo, vez ou outra, eu era convidado para fazer uma leitura durante a Missa, a convite da mãe de Magna Lima, da livraria Adhonai.

            Em 2013, eu e Patrícia fizemos o Encontro de Casais com Cristo (ECC), no Colégio Nossa Senhora da Piedade, depois da recusa a cinco convites em anos diferentes. Foram, sobretudo, os casais Charles Brício e Elciane, Rangel e Taysa Mércia, que nos convenceram a fazermos, enfim, a experiência. No ano seguinte, já estávamos engajados na Pastoral Familiar, servindo em diversas situações, inclusive em outras edições do ECC, em algumas funções, normalmente como palestrantes. Entre 2018 e 2019, fizemos parte da Equipe Dirigente, como Casal Pós-Encontro, ao lado de casais como Alfeu e Simone, Raimundo e Gisélia, Inácio e Shirley, André e Lely, Robinho e Sandrinha. Os Caranguejos. Afora o casal Fernando Bezerra e Edneusa. Fomos escalados para sermos o Casal Coordenador de 2020, mas problemas familiares e a chegada da pandemia de COVID-19 nos fizeram agradecer ao padre Valmir Soares a confiança e renunciar à missão.

            Vivemos um momento de reclusão, mas sem nos afastarmos da Igreja. Era necessário cuidar e converter o nossos mais próximos. Os de casa. Passada a turbulência, resolvemos voltar, agora mais maduros e com os pés no chão, evitando tensões comuns em toda a vida pastoral. Entre 2014 e 2018, foi Ministro Extraordinário da Sagrada Comunhão, a convite do padre Raimundo Diniz, o mesmo que em 2014 nos chamou para fazermos parte da Equipe de Festa da Padroeira de Nossa Senhora da Piedade. Desde setembro de 2023, voltei a servir na função, desta feitacom Patrícia, o que muito me alegra e me honra, a convite dos padres Rodrigo Sant´Anna, Paulo Seza e Vagner Araújo. Mais uma entre tantas demonstrações de amor por nós, mesmo nos piores momentos de nossas vidas, como pais e casal. Em fevereiro de 2023, eu e Patrícia comemoramos Bodas de Prata, na Capela do Centro de Pastoral São João Paulo II, sob as bênçãos do padre Jodeclan Rabelo, que havia cantado em nosso casamento, em 1998, ao lado de seu irmão Gideon e de nossa comadre, Raqueline.

            Ainda na seara da vivência católica, em 2015 fui convidado para ser professor colaborador do Instituto de Teologia São João XXIII, em Estância, onde atuo até a presente data, lecionando a disciplina História da Igreja na América Latina, no Brasil e em Sergipe e onde coordeno, ao lado do padre Iuri Ribeiro, o Encontro de História, Igreja e Sociedade. Em 2020, eu, ele e o professor Edvanio de Jesus Nascimento organizamos e publicamos o livro  “Sob o Manto da Virgem Morena – História e Memória da Diocese de Estância-SE (1960-2020)”, por ocasião dos 60 anos da Diocese de Estância, tendo como bispo dom Giovanni Crippa.

            Como docente da Universidade Federal de Sergipe, fechei quinze anos no último dia 6 de março de 2024, quando também tive a oportunidade de celebrar 50 anos de vida, ao lado de minha família, nas dependências da Pizzaria Barão. Em agosto, com a mercê de Deus, farei 30 anos como professor. Ano passado, tive a péssima ideia de assumir a Chefia do Departamento de História da UFS. Dei o máximo de mim, mas não foi suficiente. Incompreensões e tensões desnecessárias me fizeram priorizar a saúde mental e física, tendo que renunciar ao cargo em pouco menos de sete meses. Desde outubro de 2020, tenho me cuidado mais em razão da ansiedade e da diabetes, afora um problema de tireoide, que está comigo há alguns anos. Afora as atividades normais do tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, fui Tutor do Programa de Educação Tutorial em História por quase seis anos e atualmente coordeno o Programa de Residência Pedagógica pelo segundo ano consecutivo.  

            No final de 2016, fui a Salvador para assistir a um show da Banda e Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar. O espetáculo “Irmãos Macêdo” foi decisivo para a escolha de um tema no Pós-doutorado em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia, que cursei entre 2017 e 2018, sob a supervisão do Prof. Dr. Milton Moura, de quem me tornei amigo. Doravante, fui bem acolhido pelo grupo (Armandinho, Betinho, Aroldo e André) e passei a pesquisar e a escrever sobre, publicando o livro “A vida é um trio elétrico”, em 2019. O primeiro de uma série de projetos que venho desenvolvendo até a presente data.

            Do ponto de vista cultural e intelectual, minha vida seguiu ativa, mesmo durante a pandemia de COVID-19. Aliás, durante o tratamento da ansiedade descobri que escrever é uma ótima terapia.  Editorialmente, ainda publiquei os seguintes livros: “Contradições da Romanização da Igreja no Brasil – A Festa de São Benedito em Lagarto-SE (1771-1928)”, em 2016 (resultado de minha tese de doutorado em História pela Universidade Federal de Pernambuco);  “A Santinha do Novo Horizonte” (2020), contando a história do bairro Novo Horizonte e da Paróquia de Santa Teresinha e da Sagrada Face, em Lagarto-SE; “Eutímia – Crônicas para não esquecer” (2021), em homenagem a minha avó materna, reunindo textos com partes de minha memória que escrevi no auge da pandemia de COVID-19; em 2023, a segunda edição (revisada e atualizada) do livro “Através do Brasil, uma trajetória centenária”, desta feita em nível nacional, pela editora CRV; recentemente, também em 2023, dois trabalhos biográficos – “O Poder Libertador da Escola na Trajetória de Vida de Josué da Silva Mello” e “Dr. José Aguinaldo de Santana Fonseca – um retrato em preto e branco (trajetória e profissionalismo)”. Ao todo, já se vão, desde 1993, 11 livros autorais. Sem deixar de mencionar os coautorias, os capítulos de livros e os livros organizados.

            Como articulista, além do jornal “Folha de Lagarto” e das revistas “Perfil”, “Cidade” e “Realce”, ao longo de mais de 25 anos, colaborei para os jornais e portais: Correio da Bahia, Jornal do Dia, Jornal da Cidade, Lagarto Hoje, Sergipe Hoje, Gazeta dos Municípios e Cinform. Atualmente, apenas para os portais “Só Sergipe” e “Lagarto Notícias”. Ao todo, já se vão cerca de 750 artigos.

            Fui sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe por duas oportunidades. Hoje, por opção, estou afastado. Fui um dos membros fundadores da Academia Sergipana de Educação, a convite do Prof. Dr. Jorge Carvalho Nascimento. Ali permaneci de 2019 a 2023, quando me desliguei. Também sou membro da Academia de Letras Brasil-Suíça, desde 2018. Sou sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, a convite e indicação dos professores e amigos Anselmo Machado e Edivaldo Boaventura (1933-2018). No dia 21 de outubro de 2018, fui eleito para a Academia Sergipana de Letras, tomando posse na cadeira de número 28 no dia 21 de fevereiro de 2019, sendo recepcionado pelo presidente da instituição, Dr. José Anderson Nascimento.

            Minhas experiências políticas não foram as melhores nestes meus cinquenta anos de vida. De família destacada e histórica na área, tendo sido filho e irmão de vereador em Lagarto, era natural que eu quisesse algo para mim nesse sentido, mas minha esposa sempre me conteve, não por dominação ou algo do tipo, mas por cuidado e amor. Ela, melhor do que ninguém, conhece meu temperamento e também minha índole. Originalmente Saramandaia, há alguns anos tenho adotado uma postura mais livre, o que me permitiu viver outras situações, como na primeira gestão do prefeito Valmir Monteiro, uma das melhores até a presente data a e decisão de votar de em Hilda Ribeiro nas últimas eleições municipais, em 2020. Ter sido convidado para ser vice do empresário Nininho da Bolo Bom naquele ano muito me honrou, mas me casou profundos aborrecimentos e decepções. Devo salientar que em nenhuma das oportunidades, eu exigi cargo ou benefícios para mim. Quando me foi possível e permitido, ajudei da melhor forma, sobretudo no campo das ações culturais e da defesa do patrimônio cultural lagartense e sergipano.

            Do ponto de vista humano, fui e sou reconhecido, mesmo em terra natal. Honestamente, seria injusto e desonesto dizer o contrário. Foram prêmio e honrarias que para além de encherem o ego, demonstram carinho e nos estimulam a seguir firme nas missões que Deus me confiou até então. Entre os reconhecimentos, destaco um dos mais recentes e significativos, sobretudo por sua importância e motivação. Refiro-me à “Medalha Maria Thetis Nunes”, no dia 8 de julho de 2023, pelo Governo de Sergipe.

            Chego ao final destas cinco edições do presente projeto de memória, procurando dar conta de lembrar e registrar o máximo de informações possíveis sobre minha trajetória de vida de cinquenta anos de existência. É fato que aqui e ali algumas coisas escaparam, naturalmente, não necessariamente de propósito ou para ocultar deliberadamente algo ou alguém. Infelizmente, não damos conta de reter tudo na memória e pretendo nos próximos anos ir acrescentando o que ficou omitido e esquecido em outras oportunidades.

            Mais do que uma celebração, “Crônicas de Meio Século” é um gesto de gratidão. Primeiramente ao Deus de minha vida, a quem todas as honras e glórias devem ser dadas, aquele que me presenteou com a dádiva de existir. Em segundo lugar, trata-se de um registro histórico de meu tempo e de minhas experiências históricas, no afã de inspirar as novas gerações de lagartenses e de sergipanos.

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O Xingó Parque Hotel & Resort está situado perto da usina hidrelétrica Xingó e dos famosos cânions do Velho Chico, a 77 km do Aeroporto Paulo Afonso. Tudo isso, às margens do Rio São Francisco no município sergipano de Canindé. 

 

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